Regressada da minha curta ausência antes de partir para a próxima curta ausência, tive o tempo e a oportunidade (entre os outros dois caramelos que me obrigavam a ler à vez e capítulo a capítulo) de finalmente ler o último livro da saga de Harry Potter. Sim, porque o Harry Potter é para se ler depressa, senão quando damos por nós já há spoilers por todo o lado!
Por isso, vou já começar por deixar um gigantesco aviso de spoilers para não lixar a leitura a ninguém!
SPOILERS - quem não quer ficar fulo da vida com a minha pessoa por saber coisas a mais da conta, mantenha-se longe!Eu, como muita gente por aí, já há alguns livros que leio o Harry Potter, porque pronto, a dada altura a gente já só continua a ler porque quer saber como vai acabar. E como a saga da J.K. Rowling até tem qualidade de sobra para uma pessoa não se chatear e já nem do final querer saber, eu mantive a minha fidelidade.Impressão geral: um bom livro, mas não excelente. O melhor de
Harry Potter and the Deathly Hallows está a uma distância considerável do melhor de
Harry Potter and the Prisoner of Azkaban ou o melhor de
Harry Potter and the Half-Blood Prince (um livro algo mediano dentro da saga, mas cujos melhores momentos são efectivamente magníficos).
Em relação à plot... Previsivelmente, dado o fim do livro anterior, seria de se esperar que a metade inicial deste fim de saga fosse um tédio descomunal. Ok, tédio descomunal é capaz de ser um termo excessivo, mas a 1ª metade deste
Deathly Hallows é sem dúvida morna e até um pouco desinteressante, ao estilo da 1ª metade de
Harry Potter and the Order of the Phoenix. Além disso, na 1ª metade do livro, levamos com uma Hermione a chorar no mínimo uma vez por capítulo, o que é sinceramente irritante. Não era assim que eu me lembrava dela e eis que aqui temos mais uma excelente forma, a par da relação com o Ron (milagrosamente melhorado e amadurecido no livro só para o efeito), de me fazer tirar a Hermione do meu Top de personagens preferidas do Harry Potter.
Já toda a gente sabia que o livro seria sobre a busca dos Horcruxes, por isso toda a gente previa que o título teria a ver com isso. Diz que parece que afinal não senhora. Os Deathly Hallows são mesmo a grande surpresa do livro, surgidos de uma daquelas realidades obscuras que muitos julgam conto ou mito, mas que tem fundo de verdade. Tal como os Horcruxes, são objectos que podem ajudar a eliminar o Voldemort e aos quais J.K. dá um misticismo que nos fascina e nos faz querer saber mais. Dumbledore plantou as pistas de forma ao Harry poder escolher a alternativa que lhe parecesse melhor. Isto, embora infinitamente bonito e wowww e whatever, traz duas coisas que me chatearam o suficiente: 1º, a exaltação suprema do Harry como mega-herói, selfless (não me ocorre nenhum equivalente português, desculpem), tãaaaaoooo melhor que todas as outras pessoas do Mundo, inclusive muito à frente do Dumbledore (LOL); 2º, com dois lados para onde se virar, J.K. descurou tanto Horcruxes como Hallows e fica a sensação que podíamos saber mais e melhor sobre ambos. No caso dos Hallows, isto é evidente, porque surgem de modo algo aleatório e quando damos por nós já toda a gente mandou um bitaite conveniente que nos informa sobre a questão de forma um pouco deficitária. No caso dos Horcruxes, a coisa passou-se de outro modo. O 6º livro tinha-nos dado muita informação, e sólida, sobre o assunto, neste 7º tudo o que havia a fazer era encontrá-los e destruí-los. E é isto que leva ao secão da 1ª metade do livro, porque ninguém sabia onde os encontrar ou o que fazer com eles, então vão arrastando o tempo com conversa de chacha e dúvidas existenciais. Quando de repente sabem o que há a saber, é um frenesim que nem se percebe de onde apareceu aquilo. Os bitaites convenientes e aleatórios, lá está.
O Voldemort surge aqui mais parvónio e desesperado que em livros anteriores. Eu custa-me a acreditar que um homem que chega a tamanho ponto de poder e semi-omnipotência seja tão imbecil. Sim, sim, o amor e tal e ele não entende, mas pelo amor de Deus! Um Senhor do Mal um bocadinho mais inteligente teria protegido não só a Nagini, mas o penúltimo Horcrux também. Além disso, aquela obsessão dele com o Harry é doentia e só lhe trouxe dissabores. Se ficasse sossegado na sua demanda pelo controlo do Mundo escusava de se ter chateado com putos imberbes e literariamente despenteados (só literariamente, porque cinematograficamente o gel não faz efeito no Daniel Radcliffe). O Harry tem a importância que o Voldemort lhe deu, tão simples quanto isso. Eu que até o achava um senhor bastante cool e tal, com uma certa pose... Bah, esquece lá isso.
Uma coisa que gostei bastante no
Deathly Hallows foi a forma como todos, ou quase todos, os personagens que foram surgindo em pequenas aparições ao longo da saga tiveram o seu papel, nem que fosse para morrer! Ou então surgia o seu nome só assim num parágrafozito para fazer o jeito. Gostei de os rever, já nem me lembrava de alguns. Faltou a Murta Queixosa! Mas apareceu uma fantasma porreirita para compensar.
Falando agora do que mais me interessa no Harry Potter, ou seja, as personagens. Já falei do Voldemort, mas é só porque esse é caso flagrante.
Em relação aos nossos 3 estarolas, o que posso eu dizer? A Hermione desiludiu-me. Mesmo. Foi uma sombra do que eu me lembrava dela ser (para aí 2 ideias de génio em 600 e tal páginas), para não falar da choradeira digna de desidratação. Já era uma gag recorrente lá em casa entre o grupo, cada vez que alguém dava pelo choro da Hermione, tratava de ler a passagem para o gozo ser geral. Se pensar bem no assunto, este descambar da Hermione era algo previsível e tem-se vindo a notar desde o 5º, com maior incidência no 6º, o afamado
book of the snogging, em que de repente as hormonas estalaram e toda a gente comia toda a gente. E enfim, foi a Hermione que se viu. O Ron foi basicamente a 1ª vez que gostei dele desde o longínquo
Harry Potter and the Philosopher's Stone. Passou livros a ser usado como parvo, imaturo e arma de
comic relief, mas a J.K. lá achou que o que era demais enjoava e ofereceu-nos um Ron por fim aceitável. Não sem um último acto de rotunda estupidez e deslealdade, obviamente agraciado com um acto heróico e uma desculpa válida alguns capítulos mais tarde. O Harry... Bem, o Harry nunca foi senhor das minhas preferências. Gosto dele e tolero-o como faria ao simpático animal de estimação de um qualquer amigo meu. Mas não me arrebata o coração. De vez em quando irrita-me, o resto do tempo tenho um interesse meio vago e desprendido na sua pessoa. Neste livro, irritou-me mais do que me interessou. Bem, claramente que me interessou, porque se houve livro centrado no garino da cicatriz foi este! Não havia escape possível. Mas o Harry cometeu aquele erro imperdoável que me fazia ter vontade de esbofeteá-lo cada vez que tinha de ler algumas linhas sobre o assunto: duvidou do Dumbledore. Pelos motivos mais parvos. Então o homem foi professor dele, ele sempre foi tão obcecado com a sua cicatriz que só falava de si próprio com o homem e depois tem o DESPLANTE de ficar furioso porque o Dumbledore não lhe contou como ele tinha sido na sua juventude?! Merecia era dois sopapos para acordar para a vida! E, claro, eu não reajo muito bem a personagens com o Mundo às costas de que toda a gente depende e cujo valor é exaltado infinitamente, mesmo quando eu olho para ali e só vejo banalidade.
O Dumbledore é tipo o Gomes Freire de Andrade ou o Frei Luís de Sousa. Daqueles ausentes mais presentes que alguns que estão efectivamente a passear-se por ali! Eu sempre adorei o Dumbledore. Acho que um velho sábio e bondoso é daqueles arquétipos de personagem a que ninguém resiste. Principalmente quando se tem a coolness do Dumbledore. Para minha grande dor de coração, a J.K. achou que seria um inovador
plot twist lançar dúvidas sobre a grandeza e seriedade deste brilhante senhor. Custou-me bastante, embora eu, insultando o Harry volta e meia, me tivesse mantido sempre fiel à ideia que construí do velhote. Eu tinha razão, ao contrário do Harry, mas isso não me poupou à leitura de um capítulo no campo do espiritismo em que o Dumbledore aparece e fala e é quase visita de médium (ah! trocadilho engraçado) e em que, mais uma vez, é feita a exaltação das qualidades do Harry até à exaustão, com a agravante aterrorizadora em que o Dumbledore se declara inferior ao puto. Não acho normal. E chora e tudo e desboca-se ali dos seus segredos... Enfim, acho bem que nos dêem um capítulo em que as pontas soltas são explicadas, escusavam era de pôr o Dumbledore tão
off-character que me estava a fazer lembrar uma mistura de Professor Trelawney com o Hagrid quando está deprimido. Ainda assim, postos de lado os sustos, confirma-se a genialidade do Director de Hogwarts, confirma-se a excelência da sua mente, da sua capacidade de avaliação de carácter, é de novo realçada a inteligência dos seus planos. És grande, Dumbledore!
E agora falando do meu herói pessoal... Esse grande personagem que os meus putos do ATL gozavam comigo por eu gostar (quando se tem 9 anos, é muito pouco natural gostar-se dos maus da fita... ou dos dúbios, vá lá)... Severus Snape. Eu nunca duvidei dele. Eu tinha fé que aquela passagem para o lado negro tinha muito que se lhe dissesse além das aparências. Mais ainda, se a passagem para o lado negro se confirmasse, eu não queria saber, porque eu adoro o Snape à mesma! Mas foi muito bom, ver confirmado o meu instinto, que agora posso ir sacanamente esfregar nos egos inchados de quem me gozou e falou mal do Snape. Foi muito bom ver o único que alguma vez teve tomates para baixar a bolinha ao Harry ser recompensado por isso. Foi muito bom ver o Harry ter um momento em que não era o puto mega-herói, era apenas um puto que de facto estava redondamente enganado sobre uma pessoa, porque não se pode estar sempre certo. O Snape é excelente, apareceu demasiado pouco para o meu gosto e exigência, mas esteve em grande e merece todos os louvores possíveis. Ele é, na sombra, no sofrimento, na dureza das suas tarefas, o verdadeiro e marginalizado herói desta saga. Eu dou-te valor, homem! A sério que sim!
Ah, ia borrifar-me para as restantes personagens, mas acho que os Malfoys merecem uma nota digna de registo. Eu sempre achei que aquela família tinha potencial e teve! Das cenas mais fortes e bonitas que já li da Rowling! Uma mulher loira, inicialmente não identificada, a baixar-se para sentir o pulso ao Harry, a respiração no pescoço, uma pausa...
"O meu filho?" Lindo. Narcissa Malfoy é do melhor.
Os Weasleys pouco ou nada apareceram, as gentes da Ordem também. A Bellatrix prometeu mais do que cumpriu. O Neville cresceu brilhantemente e o que eu não dava para se ter visto maior destaque da Luna Lovegood na saga!
Quanto às mortes... Bem, não chorei baba e ranho por nenhuma. Eu estava convencida que o Harry ia morrer, mas a J.K. lá se livrou de escrever
Harry Potter and the Honeymoon doutra maneira. Fiquei muito triste com a morte do Dobby e todos aqueles momentos do funeral. A morte do Fred também foi pesadota, principalmente quando, parágrafos antes, ele estava a rir e divertido com o Percy, recém-aceite na família depois de anos de estupidez crónica.
Para terminar esta coisa comprida, vou falar do epílogo. Como já deve ter dado para entender pelas minhas preferências pessoais, eu não sou dada a clichés e a adorações de personagens para os quais a maioria tem queda. Como tal, ler um epílogo de "19 anos depois" com toda a gente casada e com filhotes... Pah, wtf?! É que, para cúmulo, a única coisa que se percebe é que X se juntou com Y e pariu filhos com tais nomes! Não se entende que fizeram eles da vida, o que são agora, como ganham a cheta, nada! Monumental anti-clímax depois daquele fogo-de-artifício todo da 2ª metade do livro! E, já agora, o Harry tem um puto chamado Albus Severus? E homenagem ao Sirius, não? Se há coisa lamechas e barata é dar aos filhos nomes em homenagem a terceiros. Que são os filhos todos do Harry, portanto, a Ginny não teve voto na matéria.
Bem, isto deve parecer que eu odiei o livro, mas não, não se deixem enganar pela fogosidade dos meus parágrafos! Gostei do livro, sim senhora, só não achei que fosse uma obra-prima. Mas Potter é Potter e dá sempre boa e viciante leitura, por isso é para ler e comprar, que vale a pena ter a saga à mão.
Peço desculpa pelo post comprido e algo confuso e incoerente, mas foi o que foi saindo. Tenho a sensação que me esqueci de mencionar algumas coisas, mas pronto, não pode sempre sair tudo perfeito.
MJNutsNota: optei por pôr os nomes dos livros em inglês, porque ainda não há título português para este último. Não foi um golpe elitista de uma louca pseudo-intelectual. x)