Ao ler um dos seus posts, certa vez, senti-me tão próxima do que ela estava a contar e ainda mais do que ela estava a esconder que não pude evitar deixar-lhe lá um simpático "Às vezes gostava de não ser uma simples comentadora do teu blog e ser mais próxima de ti (não me leves a mal), porque as tuas histórias contadas aos bocados e através de metáforas deixam-me uma sensação agridoce de curiosidade e preocupação...". Apeteceu-me. Se calhar é estranho, não tenho noção do protocolo social. Mas a verdade é que ela me mandou um mail, adicionámo-nos no MSN e assim começámos a conversar.
Sempre tivemos tendência para conversar longas horas sobre tudo e nada. Começou bem cedo. Não me lembro da primeira conversa, mas não teve aqueles horrores iniciais da horda do "tudo bem?" ou "então, que fazes?". Sei lá, fluiu a conversa. Nos dois sentidos, sempre. Ora ia eu falar, ora vinha ela.
Tornámo-nos amigas. Ou tão amigas quanto nunca ter estado ao vivo com uma pessoa pode permitir. Nunca vi a Isa (sem ser por fotografias) nem nunca lhe ouvi a voz, mas nestes meses todos que falámos, ela tornou-se importante para mim. Era uma espécie de meu diário, contava-lhe tudo até ao mais ínfimo pormenor. Fazia-me sempre sorrir nos dias em que estava mais em baixo.
Acima de tudo, a Isa era um exemplo. De coragem, de luta, de entrega. Soube assim que a conheci da sua grande história de amor, daquelas dignas de filme, com dramas e outras pessoas pelo meio e até funerais. Uma história de amor daquelas que vale uma vida inteira. A Isa não deixou de ser quem era e de fazer o que queria por amor, ela fez tudo. Mas simplesmente apercebeu-se que, para ela, o amor valia muito mais e correu atrás dele. E foi por isso que eu nunca a conheci pessoalmente: uma mera semana antes de eu chegar a Londres, ela estava a partir para NY para continuar a sua história de amor.
A Isa fazia-me acreditar no amor e na força dele. Fazia-me acreditar em mim, apesar da minha óbvia nabice no assunto. Contava-me as mais incríveis histórias de coisas que já lhe tinham acontecido. Gozava comigo quando era devido. Falávamos de cultura: séries, livros, filmes, música. Achava amorosa a tendência dela para grandes artistas mainstream, à la Madonna e Lady Gaga. Falávamos imenso sobre cusquices de celebridades, só porque tem piada. E ela falava-me de como é viver em NY e de como são os americanos no seu habitat natural. O que eu me ria com as desventuras que ela tinha no emprego...
E aquele amor imenso que me enchia de esperança...
A Isa era a receptora do mail que eu enviava quando não conseguia dormir porque tinha o peito cheio. Era a pessoa que me enviava mails a contar o que andava a fazer ou a enviar-me links parvos, porque nem sempre se tem vida para passar muito tempo no computador, apesar de, em média, falarmos uns 4 dias por semana.
A Isa "desapareceu" há 3 meses. Desde Julho que não sei nada dela. E isto é um pouco horrível, porque afinal como se pode saber de uma pessoa que nos é próxima apenas pela Internet se ela desapareceu da Internet? Eu sei que deve haver muita gente que não compreende e a quem isto não faz sentido, só que eu posso nunca ter dado um abraço à Isa, mas mostrei-lhe o meu coração. Ela era o melhor que eu podia tirar das horas passadas ao PC. Nunca falhava em deixar-me melhor, mais leve.
E não consigo perceber porque é que essa parte da minha vida cibernética desapareceu... E preocupo-me. Mando mails à falta de outra forma possível de contacto. Abro a inbox e é sempre uma desilusão não ver nada dela por lá. E às vezes questiono-me se ela existiu mesmo ou se a inventei, porque quem é que não tem Facebook hoje em dia? E depois acho que ela nunca desapareceria para todo o sempre sem me dar um aviso, mas ao mesmo tempo prefiro acreditar que ela está tão feliz e passou para uma fase tão melhor na sua vida que, ao passar para lá, não houve oportunidade para uma despedida. É sempre melhor pensar assim do que nas alternativas negras.
Mas tenho saudades dela. O pós-concerto da Lady Gaga vai perder um pouquinho da sua piada porque não vamos trocar impressões sobre as nossas experiências, a dela nos US, a minha cá. Queria mostrar-lhe a Florence e saber a opinião dela. Queria que ela soubesse o quanto cresci neste último ano e a importância que ela teve nesse processo. Queria que ela se orgulhasse da forma como me apercebi de padrões e os comecei a combater. Queria que ela me dissesse que estou errada, que não devia deixar o amor para segundo plano. Queria dizer-lhe que vi o primeiro episódio de The Good Wife e adorei. Queria que ela soltasse um dos seus discursos de bom humor exasperado devido à minha franqueza e aos meus acidentes de percurso. Queria ter mais debates animados sobre quem é gay ou deixa de ser. Queria que ela me mostrasse poemas e me citasse Jorge Amado. Queria mostrar-lhe coisas que sei que ela iria adorar e esperar pela reacção dela.
Acima de tudo isso, quero que ela esteja bem e feliz. Quero que ela esteja com quem ama.
Bolas, miúda, já o mereceste! Vê lá se estás a deitar a América abaixo com a tua fixeza, sim? Os americanos bem podiam aprender contigo.
Não me esqueço de ti.
MJNuts
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