Saturday, March 20, 2010

Vals Im Bashir (2008)

Estudar em Londres tem as suas vantagens, visto que as universidades daqui são obcecadas com servir os interesses vários dos estudantes. Daí as sociedades de tudo e mais alguma coisa, que vão de grupos desportivos a simplesmente gente que gosta de socializar. Acho que alguém devia criar a Chocolate Society, a sério. Conheço demasiadas pessoas nesta terra que iam passar lá a vida.

Como não podia deixar de ser, há uma sociedade dedicada a cinema e, como inglês não brinca em serviço, todas as semanas há uma sessão de cinema gratuita no campus, com uma sala como deve de ser (de fazer inveja ao nosso King! e ao nosso Monumental e ao Saldanha e...). Volta e meia, quando os filmes me interessam, lá vou eu pôr a minha cinematografia em dia com filmes que deixei escapar.


Foi o que aconteceu com este Vals Im Bashir (Valsa com Bashir, no nosso português). Conheci o filme porque esteve nomeado para Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2009 e era um dos favoritos. Chamou-me a atenção por ser de animação, não é muito comum filmes animados estarem nomeados, ainda mais nomeados fora da sua categoria. Vi umas imagens, vi o trailer e o estilo da animação agradou-me.

Apesar disso, fui para o filme sem saber muito sobre ele. Sabia que tinha a ver com guerra, mas nem sabia que guerra era. Basicamente, o filme, assim meio a jeito de documentário, é a história de como o realizador, Ari Folman, se apercebe que não tem memórias da sua participação na Guerra do Líbano, em 1982, e tenta recuperá-las, indo procurar companheiros de batalha e colhendo os seus testemunhos.

Não sou particular fã de filmes de guerra, mas Vals Im Bashir trata o tema com uma sensibilidade tocante, para não falar do realismo e simplicidade. O filme não coloca julgamentos na guerra e nos actos de guerra, dá ênfase, isso sim, ao que cada pessoa vive e sente quando está presente nessa situação. Foca os truques e reviravoltas da memória, para se proteger, para não esquecer. Acaba por ser um conjunto de pequenos retratos de cada interveniente, das suas experiências. Foi interessante ver os complexos de culpa pelos actos cometidos ou a culpa por simplesmente se sobreviver ao invés de morrer com os companheiros. Foi bastante curioso ver uma abordagem consciente e emotiva de Israel e do seu povo, que ainda hoje vive à sombra do Holocausto, mas que também comete horrores sobre os palestinianos... Não deixa de partir o coração ver soldados que lutaram terem noção que esses horrores são uma realidade e que eles não fizeram nada para os impedir, mesmo que muitas vezes não tivessem participado directamente.

Quando penso em guerras, penso sempre no lado humano mais cru, em como me sentiria se estivesse numa, em como as pessoas se devem sentir... Nunca nenhum filme, até hoje, me mostrou tão bem esse sentimento de perda, de participação, de actos de grande crueldade a meias com actos de grande humanidade do que é ser uma pessoa no meio de uma guerra como o mostrou Vals Im Bashir. E o mais curioso é que o filme é sobre uma guerra cuja existência eu ignorantemente desconheci até o ver. Estamos sempre a aprender.

Deixo-vos a sequência inicial do filme, que é estrondosa. Infelizmente, não a encontrei com legendas, mas há muito poucas falas. E as imagens falam por si.



A banda sonora também é qualquer coisa de muito bom. Tanto a instrumental criada para o filme, como as canções pré-existentes que ali encaixam na perfeição.

Vale a pena.

MJNuts

4 comments:

André Pereira said...

É certamente uma enorme diferença entre ambos os países e universidades, eu também me iria inscrever na sociedade de cinema em Southampton e iriam passar todos os Star Treks, a nerd's dream come true.
Tenho de ver esse, então.

Anonymous said...

Este filme é FABULOSO mesmo. tive oportunidade de o ver no Sporting onde o som é muito bom!
Grande escolha e vivam essas sociedades.
nana

Dina Barbosa said...

Tecnicamente está espectacular,também quero ver! :)

Guess said...

Adoro este início. Tenho que ver. Só me falam bem.