Friday, September 7, 2007

Felicidade Pré-Feita

Escolhe uma vida. Escolhe um trabalho. Escolhe uma carreira. Escolhe uma família. Escolhe uma televisão plasma de alta definição, escolhe uma máquina de lavar, carros, aparelhagens e abre-latas eléctricos. Escolhe um estado saudável, colestrol baixo e um bom seguro de saúde. Escolhe uma boa casa para começares a tua vida independente. Escolhe os amigos. Escolhe uma roupa notória e uma mala a condizer. Escolhe uma poltrona moderna, um tapete prático para limpar e um comando televisivo universal. Escolhe uma vaga abrangente de canais e dorme a sesta no sofá nas tardes de domingo. Escolhe o canal dos concursos televisivos ou das telenovelas. Escolhe as horas exactas em frente ao televisor e a comida-de-plástico necessária para essas horas. Escolhe um bom parque para passear o cão. Escolhe o jornal de todas as manhãs e o Café para o ler. Escolhe um bom futuro e um motivo para seres recordado. Escolhe calções de banho compridos, um bronze atractivo e uma vaga de fotografias para provares os lugares exóticos onde estiveste. Escolhe a discografia completa do teu cantor preferido e uma prateleira discreta para a expôr. Escolhe estores eléctricos e o aspirador ideal para o chão da cozinha. Escolhe um seguro de vida e um alarme contra roubos. Escolhe aquelas bolachas que tanto gostaste mas que são difíceis de encontrar. Escolhe uma bicicleta com travões de disco, um assento de gel e um cadeado com uma combinação de 6 dígitos. Escolhe um pacote de aulas de golf, um dia da semana para lavar o carro. Escolhe a casa onde passarás o próximo Natal em família. Escolhe uma colecção de música clássica para desenvolver o intelectual do teu filho enquanto bebé (não é o que dizem?). Escolhe a camisa que a senhora da perfumaria usava, o perfume que os outros gostam de cheirar em ti, os óculos de Sol, o relógio que é accionado através da pulsação. Escolhe fazer compras no supermercado onde parte dos lucros vão para crianças necessitadas. Escolhe ver documentários em família sobre o futuro do mundo. Escolhe a melhor frase que expressa a dor que sentes sobre esse futuro. Escolhe uma motivação e princípios fixos. Escolhe a roupa para usar na festa depois da formatura, o presente mais caro para o teu melhor amigo e uma caneta que escreva sobre qualquer superfície. Escolhe momentos passados para esquecer. Escolhe aquelas pessoas que queres odiar e aquelas que queres idealizar. Escolhe perguntas pertinentes sobre a existência do ser ou indiferença perante o inexplicável. Escolhe o caminho mais fácil ou o mais difícil porque é engraçado ser diferente.

Mas para quê? Eu escolho não escolher.


Guess

6 comments:

Anonymous said...

Acho que o título é ilustrativo... essa flicidade que tu descreves é a felicidade tipo "fast-food" à qual se resignam os que se deixam arrastar...

Anonymous said...

«Escolho não escolher» entra no mesmo tipo de contradição de «Nunca digas nunca.» Ao decidires não escolher não estás já a fazer uma escolha?
Este post serve para mostrar que as escolhas mais comuns na população são as induzidas pela própria cultura e o desejo individualista de notoriedade pela..."diferenciação nas escolhas?" (é só porque a última frase estragou este efeito, então fiquei sem perceber bem a tua intenção)

«Escolhe uma caneta que escreva em todas as superfícies» O lápis é mais barato.

Welcome back :)

Duriel said...

É como disse a Giovanna, todos nós escolhemos, mesmo os que escolhem não escolher... E mesmo esses obviamente que no dia a dia escolhem, e é de acordo com a sua felicidade... Sendo isso igual ou disserente à das "massas"

Mas gostei do post, está giro

Anonymous said...

Essa frase do "Escolho não escolher" foi colocada propositadamente para dar o efeito de, apesar de querer escapar ao facto da sociedade transformar certas escolhas em senso comum, não consigo.
Quero ter poder de escolha e tomar caminhos alternativos, mas a verdade é que tudo já está induzido ou tudo já tem um rótulo e parece-me que "tem" que ser de determinada maneira. Não há escolha. Todos fazem o mesmo.

Malditas pessoas (ou maldito senso comum?).

Anonymous said...

no começo pareceu-me o inicio do trainspotting.

Américo

Anonymous said...

Foi inspirado no Trainspotting ;)