Sunday, June 3, 2007

Viagem

Sempre gostei de aviões. Levam-nos a lugares mágicos. Não de andar de avião. As dores atravessam o patamar do insuportável. De aviões.

Encostada à janela, vejo-os passar e imagino qual será o seu destino. Sigo-os através do vidro, pelos céus fora. Tantas pessoas que lá devem estar sentadas dentro, na esperança de uma viagem, um negócio, um regresso de sonho…

Lembro-me das minhas viagens. Paris, Roma, Barcelona… Barcelona onde pus os pés, mas não passei para lá do aeroporto.

Também gosto de aeroportos. O local da perfeita antecipação. O local da chegada de todas as expectativas. A partir dali, como será? O local do fim de todas as aspirações do sonho. A partir dali, o regresso à normalidade. São enormes, grandes demais para os conhecermos naquelas horas longas demais em que esperamos o nosso voo.

São aviões e partem. São belíssimos porque são o ideal de uma viagem maior, para lugares que só conhecemos dos filmes ou dos livros.

Dou comigo a pensar, enquanto os meus olhos se perdem no pôr-do-Sol daquela viagem. Penso em todas as viagens que fiz e em todas as que quero fazer. Penso em todas as vezes que estive fora de casa, tão longe. Penso no que essas viagens fizeram de mim, naquilo em que me tornaram. Penso no outro lado do oceano, no outro lado do mundo.

América, o Mundo Novo. Que queria pisar com os meus pés para confirmar que não, eles não são nem nunca serão perfeitos. Argentina, México, Brasil. As praias, os pobres, as civilizações. Austrália, os latinos do outro lado da Terra. Japão, China, Tibete. O mundo a que deveria ter pertencido, o espírito que quero conhecer. Quénia, Egipto, África do Sul. Os pais dos Homens, o mundo dos bichos. Europa, Europa, Europa… Onde todos os grandes nasceram, onde o mundo actual construiu as suas leis, as suas verdades.

Olho para o céu e todo isso vejo. Um decorrer de sonhos e histórias. E observo-me e vejo alguém sem casa, pois só nas viagens me encontro. Naqueles infinitos pôr-do-Sol, nos cheiros intensos de cada nova terra. A terra molhada da Escócia, a música silenciosa das ruas de Paris, os palácios de Roma, a atmosfera familiar de Santiago de Compostela, o mar de Porto Santo… Aquela neve tímida em Andorra. O aeroporto de Barcelona e as ruas alaranjadas de Madrid. As lagoas dos Açores e as belezas cruas da Madeira.

E enquanto me recordo dos sítios a que fui e me lembro das terras que não pisei, um comboio atravessa o fundo da minha mente. Um comboio velho que fumega e aquela velha música que às vezes me vem lembrar que há sempre por onde fugir. Holding back the years/Chance for me to escape from all I know.

E então lembro-me dos comboios e que também eles me podem levar. E que com eles piso cada bocadinho de terra e vejo cada bocadinho de céu.

E com tanta viagem, sonho e perco-me. E cada mar que percorri não é mais que uma onda do oceano demasiado turbulento que sou eu vezes demais.

E pergunto-me porquê. Porque quero viajar tanto? Porque quero estudar fora e ir ajudar crianças em África? Porque há em mim esta ânsia de sair, de percorrer? Porque está em mim a necessidade de conhecer outras dores, outras histórias, outros locais?

E afinal porquê? Porque hei-de estar sempre a fugir?

O avião desaparece e é nele que penso. Pois eu só estou no topo do Evereste, nas Pirâmides de Gizé, no Grand Canyon, em Madagáscar, na Amazónia, no Taj Mahal e em Auschwitz. E todos esses caminhos terei que percorrer até parar e a um lugar do mundo chamar casa.Porque até hoje só às pessoas dei esse nome.

MJNuts

4 comments:

Anonymous said...

a minha viagem de sonho é nova york nao por ser dos USA nem gosto muito dessa cultura mas nova york sempre me intressou muito com todos os seus museus de arte contemporanea. Mas nunca tive desejo de ir ajudar os putos de Africa... sou um invejoso.

ps. comida de avião é boa.

Morcegos no Sótão said...

Também gostava muito de ir a Manhattan e New York. =) São as minhas viagens de sonho nos States, além de Boston, mas essa é tipo prioritária. =P

Voluntariado e missões em África devem ser experiências para marcar uma vida. Vale a pena, de certeza.

MJNuts

PP said...

Como eu te percebo... O ano passado contei pelo menos 10 viagens.. para o mesmo destino é certo mas cada uma cheia de emoção! As viagens de regresso era uma ansiedade e as de ida..bem..podiam ter sido mais felizes! As horas perdidas nos aeroportos.. lágrimas timidas no de Lisboa.. suspiros no do Madeira! Posso dizer que fiz Lisboa-Funchal a quase todas as horas do dia..vi o nascer do sol, o por do sol e de noite..e q alegria é começarem-s a ver as luzinhas do continente! Adoro viajar.. Faço-o mais de carro, muita gente não suporta a ideia sequer, mas foi assim que consegui conhecer portugal, espanha e frança não apenas as cidades maiores mas também as regiões.. Tenho algumas viagens-sonho: road trip pelos EUA (correr quase os estados todos); america do sul (+/- os locais do "diarios de che guevara") principalmente a patagónia!! Dps tb queria conhecer a europa.. enfim muito sitio pra visitar!

Adorei o texto..mto bem escrito pra não variar! ;)

Anonymous said...

Áustria, people! =D´
Mas adorava ajudar crianças em África! Deve ser uma experiência profundamente marcante!
Porque raio não se faz um inter-rail?!
Oh wait, you already are organising one! :@

Humff! ;P

"Porque até hoje só às pessoas dei esse nome."