Wednesday, April 14, 2010

Sebastián

Leo é um jovem de 23 anos, a adiar a escrita da sua tese de mestrado. Vive num apartamento com outro rapaz, que é também o seu senhorio e que vive praticamente da renda que lhe paga. Não são amigos, mas sentem respeito um pelo outro, não se metem onde não são chamados.

Leo é gay, mas não quer ser.

Não quer desiludir a mãe, que deixou no campo para vir em busca de uma vida melhor na cidade. Não quer ser diferente. Quer casar e ter filhos, seguir o percurso dito normal. Quer poder ser, simplesmente, sem discriminações nem contrariedades.

Por vergonha, por ignorância, por se querer esconder, Leo procura homens na Internet. Às vezes marca encontros e depois não tem coragem de dar a cara. Outra vezes, arrisca. E assim conhece Sebastián, que, apesar de também recorrer ao muitas vezes mal visto meio cibernético, é boa pessoa. É bonito e interessante e paciente e compreensivo.

Apaixonam-se e Leo é feliz. É feliz, mas não totalmente, porque continua com vergonha. Do que é, de quem é, de que os outros o saibam. Leo ainda não aprendeu a viver pela sua verdade, precisa da aprovação dos outros para se sentir confortável.

Sebastián é livre. Sebastián não se esconde atrás de mentiras e de fachadas. É o que é e mais ninguém tem nada a ver com isso.

O amor é um equilíbrio frágil que não desaparece perante a adversidade, mas que tristemente se apercebe quando não é suficiente. O amor é um equilíbrio frágil que sabe quando sair é melhor que permanecer.

E então Sebastián não aguenta mais e parte. Não é por falta de amor, é por falta de liberdade. Na escadaria que é a vida, o amor não aguenta infinitos degraus de separação.

Leo tem um psiquiatra. Há anos que o consulta, semanalmente. Há anos que lhe paga para lhe mentir, para deixar tudo à superfície sem aprofundar coisa nenhuma. Há anos que até na confidencialidade do consultório foge de si mesmo. Mas nunca é tarde para mudar.

- Hoje sinto-o triste, Leo. Que se passa?
- Sabe que, depois da minha namorada, encontrei uma pessoa...
- Então e essa pessoa fá-lo feliz?
- Sim.
- Porque está triste então?

Os olhos de Leo brilham, em silêncio. O brilho aguado das lágrimas que apertam o peito sem o aliviar.

- Como se chama essa pessoa?
- Sebastián.

Uma lágrima cai, finalmente. E os olhos de Leo são lindos e carregam mundos dentro deles. Naquele murmúrio, está a força de um amor. Naquele nome, está representado o medo que o paralisa.

O psiquiatra sorri, identificando uma ponta da verdade há tantas sessões escondida.

- Porque chora, Leo? Sebastián é um nome tão bonito...


MJNuts (inspirada/baseada no filme El Cuarto de Leo)

4 comments:

André Pereira said...

Tenho de ver o filme :(

A vida e o amor não deviam ser bailes de máscaras.

Ricardo Pinto said...

Quando vi Leo, pensei no filme Close to Leo. Parece que há outro filme cujo protagonista é Leo e eu não o conhecia.
Mas gostei muito da história. Levar uma vida de mentira pode ser sufocante

Anonymous said...

Este mundo tem complexos a mais e amor a menos.

Guess said...

gosto tanto desse final. «you are who you are when no one is looking»? estranhamente, isso aplica-se a mim...