Sunday, November 9, 2008

A Vida Lá Na Escola (ESTC)

Fez esta sexta-feira 6 semanas que entrei para a Escola Superior do Teatro e Cinema, na Amadora. Após ter deixado aquele negro, mas importante para mim, curso de Direito, toda a minha vida se tornou num nada que pairou durante imenso tempo no ar até decidir que cinema era aquilo que devia e queria fazer. Após ter conseguido passar todas as fases de selecção, consegui, finalmente, entrar para aquilo que, no fundo, sempre quis. A vida lá na Escola?

Durante a semana que passei na Escola na época de selecção, consegui começar a desenhar as linhas que saíam daquelas pessoas que por lá andavam e procuravam conseguir entrar para o curso. Poucos diziam bom dia e poucos sabiam manter uma conversa sem falar sobre o Gus Van Sant, que realizava excelentemente, ou sobre a estranheza do Inland Empire ou mesmo sobre o mau jeito de Kate Hudson para representar. Havia toda uma procura em ser-se mais sabedor sobre determinado filme ou em arranjar argumentos rápidos e inteligentes que conseguissem defender uma obra pessoalmente adorada. Essa mesma semana foi suficiente para haver segredos, conflitos, competições, más línguas, juízos de valor. Na sexta-feira, não tinha a certeza se conseguia dizer que tinha gostado. A vida lá na Escola?

A vida lá na Escola é cinzenta. Cinzenta como os corredores frios e vazios que atravessam todo aquele edifício. Cinzenta como o silêncio de quem por eles passa solitariamente. Cinzenta como os olhares distantes daqueles que não brincam durante os intervalos. Cinzenta como o fumo do tabaco de todos os que fumam constantemente nas pausas. Cinzenta como o pássaro morto há 3 semanas, que, lentamente, se decompõe nos vidros do tecto de um dos poucos corredores expostos à luz exterior. A vida lá na Escola não é a vida que eu esperava. Somos poucos para uma turma de faculdade - 34 - e, em vez de haver um ambiente familiar propício a conversas em volta de uma fogueira, existe um ambiente amargoso em que todos gritam salve-se quem puder! de forma discreta. Todos querem ser melhores que todos. Todos querem aperfeiçoar os seus trabalhos, fazendo o dobro ou, por vezes, o triplo daquilo que é pedido (imaginem as implicações a que este último remete). Todos querem brincar aos adultos.

Os alunos de Cinema pouco ou nada falam com os alunos de Teatro. Os alunos de Cinema pouco ou nada falam com os alunos de Cinema de anos diferentes. Os alunos de Cinema não têm tempo para actividades que os façam descansar (mas eles querem descansar?). Os alunos de Cinema não se divertem quando têm tempo. Os alunos de cinema acham estranho quem brinca quando tem tempo. Os alunos de cinema acham interessante e novo quem brinca quando tem tempo. Os alunos de cinema são fechados e nada extrovertidos.

Talvez seja a falta de espírito académico que faça aquela Escola ser tão cinzenta, apesar das suas paredes exteriores estarem brilhantemente pintadas de amarelo. Aquelas pessoas parecem ter pavor a tudo aquilo que se relacione com o espírito académico. Eu? Eu tenho dificuldades em viver ali. Entro às 9.30 e saio, na maioria dos dias, às 20h e nã0 tenho tempo para ter uma vida fora daquele lugar. A Escola exige demasiado da minha pessoa. Sinto-me integrado, obviamente, mas não sei se quero fazer parte daquele lugar e fazer daquilo a minha casa durante os próximos 3 anos. Se o fizer, preciso de me agarrar a alguma coisa dentro daquele mundo, que, ao mesmo tempo, me evada do mesmo.

A vida lá na Escola? A pouco e pouco, estou a conseguir disparar uma bala de alegria e liberdade de espírito àquelas pessoas. Já vejo sorrisos, já vejo risos, já vejo alguns pulos. Após ter entrado para a Associação de Estudantes, consegui avançar com a minha ideia de criar uma espécie de Tuna. A ideia sobre a qual muitos se riram e acharam impossível de criar, tornou-se uma realidade em desenvolvimento, com uma participação activa do pessoal de Teatro, que, são, claramente, pessoas bastante mais divertidas que aquelas que habitam o lado norte da rua que divide os dois departamentos. E é isso que eu preciso! Alguma música para pintar aqueles corredores de cor-de-rosa e verde.

Eu sei que existem bombons por lá, que me conseguem alimentar a força para aguentar. Bombons por entre os abraços secretos dos amantes de teatro ou mesmo nas palavras da Professora de Montagem, que exige silêncio aos alunos que ficam no interior da sala, durante o intervalo, a tagarelar só para eu conseguir dormir uns minutos sobre o tampo da mesa.

Fora da Escola, no pouco tempo que tenho, o Jardim Zoológico consegue sossegar a minha ânsia de querer arranjar uma alternativa a este peso.

No outro dia, saí da Amadora às 20h e apanhei, mais uma vez, o comboio para o Oriente. Tinha dormido apenas duas horas na noite anterior e, como tal, encostei-me à janela e ocupei dois lugares para esticar as minhas pernas e descansar um pouco. Um homem passou pelo corredor e viu-se obrigado a desviar-se ligeiramente da parte do meu corpo que estava no seu caminho. Deve pensar que está em casa, refilou. I wish, sonhei eu antes de adormecer quase automaticamente. Quando acordei, a Gare do Oriente já tinha passado pelo comboio. Santa Iria foi onde saí.

Be careful what you wish for.

Guess

Perdoem-me por ter escrito mais palavras que as queria, mas nem estas são suficientes para perceberem a vida lá na Escola.

13 comments:

Morcegos no Sótão said...

A professora de Montagem parece fofa...=)

Não te preocupes. ;) Vai custar a passar, mas são as coisas difíceis que trazem maior satisfação quando o objectivo é cumprido.

You're gonna have a great life.

"I can conquer the world with just one hand... As long as you are holding the other."

MJNuts

Anonymous said...

...

I will have a great life as long as you're there telling me how great my life is.

Duriel said...

Ai artes, artes...

Admiro-te André =)

Anonymous said...

Espero que a vida lá na Escola se torne mais divertida... :)

Anonymous said...

Lol acho piada ao comentário do Duriel. Quanto a ti andré epá tu vais revolucionar aquilo tudo e aquela gente vai aprender a rir, chorar berrar brincar... n te preocupes. És de que tuna? ;)

Anonymous said...

A minha escola não tem espirito e é animada! O pessoal de cinema é que são uma cambada de snobs! Nao tu fofo!

Anonymous said...

Não é a questão de serem snobs.
Nem todos o são.
É o facto de serem bastante fechados e introvertidos.

Anonymous said...

Hum...
Isto aqui surgiu um problema e um comentário qualquer da Melvina desapareceu.

Dizia "Well said".

Peço desculpa a confusão.

mafalda said...

a vida lá na escola?
são bolos atirados à cara dos professores e o tão caracteristico, ai desculpeee, com as mãos no peito; são os pudins atirados à cara de quem mal nenhum fez a deus nosso senhor no meio da cantina; são desenhos espalhados pela escola com a menina bem mais feia do que é na realidade e o rapaz, entenda-se o que se ri,desenhado bem mais bonito do que realmente é; é sobretudo, acho eu, mesas partidas no departamento de teatro e guerras por causa de livros sobre livros de culinária ou cantigas de igreja a duas vozes;
a vida na escola?
é, olha (bip-bip-bip-bip)

[música de fundo: taaaan-tan-tan-tan-tan-tan-taan-taann]

and on
and on
and on
and

Luís R.T. Matos said...

Eu também por lá andei, pela casa amarela. Essa carga emotiva e negativa, que se sente na massa estudantil da ala do cinema, deve-se à subliminar mas omnipresente consciência, de que para a grande maioria, o futuro é o desalento artístico. Ou desemprego, em termos mais práticos.
Além de que as novas gerações têm condicionamentos societais, que não se coadunam com actividades deste género. São treinados desde tenra idade para serem competitivos, mas estéreis. Pois a regra é seguir a norma e executá-la, e não colocar a mesma em causa.

Fuma umas brocas, que vais ver que isso passa e acabas o curso num instante. E se fores muito certinho e completamente estéril, o mais certo é meterem-te em realização no 3ª ano. Não esquecer, ser estéril é importante para o sucesso naquela escola.

Mas gostei de lá estudar, e alguns professores são-no de facto.

Anonymous said...

Bem... apesar de já terem passado alguns anos desde que escreveste este post e outros mais ainda de eu ter andado pela bela escolinha amarela, mas na ala de baixa, devo dizer que "é muito bom saber que afinal não era só eu a sentir esse ambiente mordaz por todo o lado interior da ESTCetera..", mas acrescento "que pena que ainda tenha sido assim para ti".

Sucessos!

Beatrix Kiddo said...

o meu namorado estudou na estc e ia fazendo que sim com a cabeça à medida que eu lia este texto. espero que tenha melhorado ** eu tb fui lá algumas vezes de visita (joguei ping pong, comi na cantina e estive umas horas na biblioteca) e senti um bocado isso.

Anonymous said...

podes-me dizer qual é a média min para entrar para a ESTC tentei pesqueisar mais não encontrei... beijs