Isto em dias em que a minha vida é um vazio de quase tudo, sobra espaço para o sempre bom hábito de ver séries no PC. Hábito esse muito cultural, mas que às vezes me rouba preciosas horas de sono. Como ando numa de novas experiências, porque não experimentar séries que nunca tinha visto e que agora andam na berra? E ganham assim Emmys aos molhos e tudo. Na verdade, mereciam posts separados, mas assim fica já tudo despachado.
Pois é.
30 Rock foi uma surpresa para mim. Até esperava achar uma certa piada e divertir-me, mas adorar? Isso foi inesperado! Nunca fui muito dada ao género cómico. Mas é impossível não me apaixonar pelas trapalhices de Liz Lemon, pelo carisma de Jack Donaghy ou pelos amigos grandalhões de Tracy Jordan.
30 Rock centra-se na vida dos trabalhadores de
TGS with Tracy Jordan (que era apenas
The Girlie Show antes da vedeta se lhe juntar). A protagonista é Liz Lemon, chefe da equipa de argumentistas, e a ela se juntam personagens hilariantes como Kenneth, o
page da NBC (não sei como andam a traduzir isto para português, literalmente seria pagem); Tracy Jordan, o actor famoso e tresloucado que veio para salvar o programa, mas também para o pôr em sarilhos; Jenna Maroney, a actriz egocêntrica e fútil que acha que a sua sexualidade é solução para tudo; Peter, o produtor careca com problemas familiares; ou Frank, o argumentista preguiçoso cujos bonés me causam sempre um sorriso. Claro, e o irrepetível Dr. Spaceman, que é um médico ainda menos ortodoxo que o House!
Ah, e não me posso esquecer de referir que esta série tem uma coisa que eu acho deliciosa! Provavelmente não me vou conseguir explicar, mas pronto. Estão a ver séries como os
Simpsons ou
Futurama? Em que há um desenho que aparece inúmeras vezes, mas sempre com papéis diferentes? Ora é agricultor, ora é homem das obras, ora é canalizador... Tenho em mente o homem gordo de fato-macaco de
Futurama e o alto e magrela dos
Simpsons, que tem a franja a tapar os olhos. Bem, espero que tenham percebido a ideia. Porque o pormenor que eu mais adoro em
30 Rock é que há uma actriz que tem esse papel! Esses papéis! Ela já foi dona de gatos, médica, jornalista... É genial!
Todas as personagens de
30 Rock são fabulosas e me têm a seus pés. Sim, claro que tenho as minhas preferências, mas não há uma única que não goste! Tenho de sublinhar a prestação
fabulosa de Alec Baldwin como Jack Donaghy. Eu não era fã do actor, aliás até tenho um certo desdém pelo clã Baldwin em geral, mas não pude deixar de me render a esta interpretação. Desde aquele vozeirão estilo "sou o maior e a minha voz apenas publicita a minha superioridade", ao cabelo sempre magnificamente arranjado e cortado de 2 em 2 dias (porque o cabelo dá a nossa primeira impressão), passando pelas ideias loucas para dar lucro à empresa e pelas lições de vida que tenta ensinar a Liz ou a Kenneth. Eu adoro assim muito assolapadamente este personagem!
A Liz, sem grande concorrência no que diz respeito a protagonismo feminino na série, é alguém que me diz muito. Identifico-me um pouco com ela. A falta de preocupação com a roupa, o vício no trabalho (ou pelo menos a incapacidade de nada ter para fazer), o espírito criativo que não reage lá muito bem a trabalhos fora dessa área. A Liz é uma fofa! E a química dela com o Jack Donaghy, quase sempre no campo da amizade e roçando muito raramente a tensão sexual (coisa invulgar nos dias televisivos de hoje!), é algo digno de deleite.
Devo dizer que já há muito ouvia falar de Tina Fey sem lhe conhecer o trabalho e agora sim, sou fã. Grande senhora, merece tudo! E é gira também!
Numa nota final, dizem as más e bastante realistas línguas que
30 Rock se baseia nos tempos em que Tina Fey foi argumentista no
Saturday Night Live. Pois o que eu tenho a dizer é: se os bastidores do famosíssimo
SNL são assim, para quê perdermos tempo a ver os
sketches?
Num campo mais pessoal,
Eli Stone é uma daquelas séries que, mais do que gostar, me diz muito, muitíssimo. Como
My Name is Earl. Como
Ally McBeal me disse nos tempos de adolescente.
Já que toquei com o dedo na ferida,
Eli Stone é muito comparada a
Ally McBeal pela crítica. Firma de advogados abordada sob uma luz menos pesada, um dos advogados tem umas visões estranhas, há uma certa comédia nestes acontecimentos... Não tem Boston, mas tem San Francisco. Há muita música, também. Sim,
Eli Stone tem um pequeno toque de
Ally McBeal. O que não lhe tira, de todo, o muito mérito que tem.
Voltando ao princípio, a série centra-se num advogado que subitamente descobre que tem um aneurisma inoperável no cérebro. Aneurisma esse que tinha ceifado a vida do pai. Associadas a esse aneurisma, vêm visões de coisas aparentemente inexplicáveis e que Eli tem de aprender a compreender. Podem ter a ver com os casos que está a trabalhar ou com decisões que tem de tomar na sua vida pessoal. Ou com nada disso e ele que se oriente. Antes do aneurisma, Eli era um advogado sem escrúpulos, que gostava de trabalhar casos com muitos cifrões envolvidos. O Eli do pós-aneurisma é alguém que se preocupa com as pessoas e as suas causas, que quer ajudar.
Jonny Lee Miller vai muito bem como Eli Stone. Ao contrário de Ally McBeal, que muitas vezes era aborrecida e o grau de aborrecimento aumentou progressivamente, Eli Stone é um homem com quem se simpatiza sem grandes dificuldades. É muitíssimo inteligente, mas meio pateta também. A sua luta agridoce com o aneurisma traz-nos sorrisos e por vezes consegue comover. Eli é muito humano, algo que sempre me deixou rendida em personagens, sejam eles de séries, livros ou filmes. Ah, e Miller é o dono do crânio mais fofo de sempre! Nada me deixa mais aconchegada do que a musiquinha de 2 segundos do genérico com o Eli visto de costas à la quadro de Magritte.
Mas pronto, a série não é só o Eli e tem personagens que eu gosto bastante. Mais uma vez, como em
30 Rock, não há propriamente nenhuma que não goste. Tenho noção que a menos preferida é a Taylor, mas a personagem até que está bem construída e, ao contrário do que eu previa inicialmente, fugiu ao estereótipo de gaja cabra que depois de saber da doença do namorado lhe dá com os pés.
Vou dar destaque ao senhor que eu provavelmente mais respeito na televisão que vejo nos dias de hoje: Jordan Wethersby. Interpretado por Victor Garber (o pai da Sidney de
Alias), Jordan é o dono da firma onde grande parte da acção se passa. Um homem de postura calma, impenetrável. Acima de tudo, um homem com princípios e cujos sucessos não o impediram de ver o mundo claramente, de dar o devido valor a quem o merece. Além de que canta muito bem.
Temos também a Patty, a melhor assistente da história das séries de advogados (adoro a relação que ela tem com o Eli!). O amigo acupunctor versus o irmão neurologista. E claro, como não podia deixar de ser, a parafernália de colegas advogados que são bem fixes.
Numa atitude sem precedentes nos meus posts sobre séries, vou aqui falar de 2 guest stars muito peculiares! Antes de mais, a presença constante de George Michael! Eu não era fã, continuo sem ser, mas adoro o cantor na série! Não é lá grande actor, mas tem timings perfeitos. E pode não aparecer sempre, mas o seu nome é dito em todos os episódios, para não falar que os títulos dos episódios são, precisamente, títulos de canções do músico. Excelente!
A outra guest star que mereceu a minha atenção foi Katey Sagal... Podem não estar a ver quem é, mas eu estou, até bem demais. Depois de me habituar à sua Helen (o amor da vida de Locke, de
Lost) e à sua (e minha) mui amada Leela de
Futurama, foi muiiiito doloroso suportar a cabra que ela interpreta em
Eli Stone. Eu estava, literalmente, agarrada aos ouvidos porque não conseguia tolerar a voz meiga a que tanto me habituei a dizer tais barbaridades. Katey Sagal num registo diferente. Muito boa actriz, muito bem conservada para a sua idade.
Acho que é praticamente tudo. Os casos legais da série são interessantes, alguns até marcantes. Gostei bastante do de um presidiário que está a cumprir pena apesar da sua inocência e que não desiste, mesmo com todos os pontapés que a Vida lhe dá diariamente. "Live brave". Não pude deixar de me comover com a reunião de 2 chimpanzés machos com comportamentos gays, separados devido à acção de uma fasquia conservadora no Zoo local. Muitas amostras da humanidade de todos nós.
Aconselho. Com carinho. A quem, como eu, gosta quando algo lhe toca o coração.
MJNuts