Hoje fiz mais uma viagem de auto-conhecimento, desta vez a meias com uma grande amiga. Os telemóveis aumentam exponencialmente o potencial das amizades, parece-me. Principalmente quando as mensagens são grátis.
Passando ao que interessa.
Há pessoas que não se permitem sentir o que quer que seja por terceiros. Ou pelo menos não se permitem isso em 99% dos casos, tem de vir aquele ser raro que provoca o ruir automático dos muros defensivos que tanto tempo demoraram a criar. Falávamos nós disso integrando-nos nesse rol de pessoas, uma mais que a outra. Chegámos à brilhante conclusão que as nossas (parcas) experiências indicavam que, quando surgia esse brilhante ser feito cavaleiro andante que arruinava os muros todos, não eram só as defesas anti-amor que ruíam. Eram as defesas pró-amor próprio que ruíam também. Cegas pela nova sensação, pelo despertar de um romance, pelo ideal de alguém finalmente ter chegado e nos querer, abdicávamos de convicções, submetíamo-nos a essa vontade alheia, recém-chegada com o seu amor e o seu poder. Dávamos de nós para não termos de perder esse alguém tão precioso.
O alguém mais precioso que podemos ter somos nós mesmos. E nós lá aprendemos essa lição da pior maneira.
E depois como recomeçar? A vida segue o seu curso. Queixávamo-nos nós da riqueza em melancolia e sentimentos que nos assola em Janeiro/Fevereiro. Queixava-se ela, porque eu até gosto e me sinto algo afogueada com tanta sensação. Mas a verdade é que, reagindo uma de uma forma e a outra de outra, o que nos acontece em Janeiro/Fevereiro é bastante semelhante.
Cai o Inverno e desce sobre nós essa vulnerabilidade ao mundo envolvente. Ficamos tão frágeis ao sentir. Cedemos tão facilmente a quem quer que seja que vem personificar esse personagem mitológico que derruba muros e barreiras do nosso coração.
Diz ela que me inveja porque eu me deixo mais facilmente afogar nesse mar de extremos que são as paixonetas. Que são os sonhos esquisitos e as fantasias estapafúrdias. Que são os histerismos de alegria ou os surtos de tristeza de lado nenhum. Todas essas coisas que não têm piada nenhuma. Eu não me invejo mesmo nada. Gosto do sossego. Do egoísmo também. Do viver para quem gosto e para o que eu gosto, controlar tudo o que se passa na minha cabeça e não só.
Avançando na conversa, descobrimos esse milagre personalizado que é o 'letting go'. A capacidade que, pelos vistos, ambas temos de deixar ir a pessoa que nos larga ou que nos magoa, que nos vira as costas ou que nos ignora à partida. Just like that. O 'letting go' pode ser muito útil. Poupa longos tempos de sofrimento.
E pôs-se a questão: não será o 'letting go' uma forma de nos manter longe da espiral de dores que são o amor, as paixonetas, as atracções, o que for?
Talvez seja. Provavelmente é. Mas não vale a pena sofrer pelo que já deu os seus frutos. Ou pelo que nunca os irá dar.
Não deixa de ser curioso. Nós fechámo-nos em nós próprias depois da experiência da dor. Ela talvez mais que eu. Nós vivemos bem assim a maior parte do tempo. Mas depois chega Janeiro e precisamos do mimo que só o nosso animal de estimação parece disposto a dar...
Sempre gostei do Inverno. É a minha estação do ano preferida. Sinto-me feliz e as minhas capacidades mentais estão no seu pico (lá para a Primavera começam a dar o berro...). Como tal, sim, gosto de Janeiro e Fevereiro. Mesmo que para isso tenha de enfrentar cavaleiros andantes que quebram barreiras sem darem por isso e me dão a volta ao Mundo só de me tocarem na mão quando me passam a borracha.
Porque, afinal, isto passa. Se não passar, é porque correu bem.
E feitas as contas, os amigos estão sempre lá para partilharmos a dor de ter paixonetas ou a mágoa de as não ter.
MJNuts
Listening to: The Dresden Dolls - Delilah
E a Escrita?
1 year ago
1 comment:
Bom texto! ;)
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