Wednesday, November 19, 2008

Sonhos

Na noite passada, em vez de irmos dormir que já eram horas, eu e o companheiro Guess pusemo-nos a falar de sonhos... Não, nada melodramático como de costume! Sonhos, como quando se está a dormir.

Ele diz que não consegue tomar consciência que está a sonhar, então nunca consegue controlar os sonhos... Mas até que tem sonhos giros, tipo um teatro com animais verdadeiros com actores escondidos a fazerem-lhes as vozes! Ou daquela vez em que sonhou uma enormidade de aventuras no palácio d'A Bela e o Monstro. Sonhos giros!

Mas pah... Há que dizer que eu sonho coisas muito esquisitas! Antes de mais, pelo que sei, as pessoas costumam sonhar com as pessoas que lhe são mais próximas ou pelo menos fazerem-se acompanhar, no sonho, de amigos, família ou até mesmo da pessoa amada. Eu é raro o sonho que tenho com pessoas íntimas! Pode lá aparecer a moça que se senta na carteira da frente na aula de Inglês, os meus afilhados do meu antigo curso, amigos de amigos... Mas gente minha? Nah! Que é isso?

Vou expôr-vos então o ridículo de alguns dos meus sonhos, a ver se vocês sonham de uma forma parecida.

Ora portanto, o mais recente foi há duas noites atrás. Estava eu e mais dois ou três dos meus afilhados do meu antigo curso (e acho que uma neta) a "curtir" um concerto de Ivete Sangalo (!), na fila da frente sozinhos, num espaço tipo o do Rock In Rio... com mais 20 ou 30 pessoas a assistir! Ela bem tentava puxar pelo pouco público que havia, mas ninguém queria saber dela! Até que recorreu à sua arma secreta, o Poeira. Poeira, poeira e ninguém queria saber dela para nada. Até que a senhora desistiu, desceu do palco e veio conviver com a malta. Acabámos todos num casarão que era basicamente igual à casa da festa de Halloween do ano passado, mas versão XXL. E lembro-me vagamente de haver sangria.

Agora passando assim para sonhos gritantemente estúpidos...

Uma bela noite, que acordei super mega contente na manhã seguinte, sonhei... com Sailor Moon! Não, não me contentei em sonhar com Sailor Moon! Sonhei com todas as Navegantes da Lua (as nove!) em versão animada! Mesmo como aparecem na TV! E o que estavam elas a fazer? Estavam na Bobadela... a combater um dinossauro! Verde! Que parecia um tiranossauro de plasticina gigante. Lembro-me perfeitamente da Bunny em cima de uma estrutura qualquer mais elevada do que o solo a fazer os seus jeitos de mãos "Em nome da Lua, vou castigar-te!". Aliás, havia por ali muitas estruturas elevadas para as moças se pousarem, não sei que raio se passava naquela terra...

Outro bastante hilariante que tive foi um em que eu pertencia a um gang de fadinhas... Ou seja, eu também era uma fadinha. Éramos todas mais ou menos do tamanho da Sininho. E porque disse eu gang de fadinhas? Porque nós nos dedicávamos a roubar lojas de electrodomésticos!xD Porquê?, perguntam vocês. Não faço ideia. O que recordo com mais carinho deste sonho é que eu de facto tinha de fazer um esforço semi-consciente para conseguir voar... Tanto que ia sendo apanhada pelo dono de uma das lojas, com um electrodoméstico branco qualquer que eu desconfio que era uma batedeira.

Uma vez sonhei em versão videogame. Género Super Mario Bros da Nintendo hiper mega velha que era um paralelepípedo cinzento, a consola antes da Super Nintendo! Éramos uns três ou quatro (e essa foi a única vez que sonhei com o meu amor de adolescência) e andávamos por lá, saltando de plataforma em plataforma e a matar serezinhos estranhos.

Também tive um sonho estilo filme de terror, mas esse já não lembro bem. Sei que havia uma gaja boa no grupo (olha eu com sonhos estereotipados...), mas qualquer daquelas pessoas nunca as tinhas visto mais gordas, e que envolvia uma casa assombrada. Parecida à do sonho da Ivete Sangalo, agora que penso nisso.

Sei que houve uma vez que tive um sonho tão genial que queria escrever um livro com aquela história... Mas eu, estúpida, não apontei o que era e agora já me esqueci... Uma pena. Talvez o meu cérebro me dê uma prenda de Natal?

Outro grande sonho meu, trademark MJNuts, foi aquele sonho que desejo a toda a gente... Basicamente havia um teleférico (igual ao do Zoo, peço desculpa, fãs do conforto) que percorria Portugal inteiro, de Norte a Sul... E então era eu, pequenina, com os meus amigos da primária, a ver o país todo por cima... Estava um sol radiante! Tenho a vaga ideia de passarmos pelo Alentejo, mas as memórias mais vívidas que tenho do sonho são de paisagens de serras... Belíssimo, a sério.

Gostava de saber o que Freud teria a dizer destas coisas!

Sonhei que voava mais duas ou três vezes além daquela das fadinhas. E sempre foi preciso esse esforço semi-consciente para arrancar do chão. Coisa que, interiormente, é uma experiência curiosa. Dá uma certa satisfação conseguir, mas parece que nos estamos sempre a esquecer do mecanismo e que cada vez que precisamos de o utilizar, temos de ir pelo método tentativa e erro. É muito estranho. Pelo menos comigo. Lembro-me de a Giovanna me contar um sonho em que ela voava, mas voar ali era tipo nadar... Tinham de bater os braços e coisas assim.

Não sou dada a pesadelos, pelo menos não me é comum acordar com medo. Na verdade, já tive mais vezes medo naquele estado letárgico antes de estarmos profudamente a dormir, porque a minha mente se convence, sei lá, de que estou deitada de lado, mas afinal estou deitada de barriga para cima e é ali um choque muito grande entre Ids e Egos e Superegos e acordo sobressaltada.

Também não é meu costume ter sonhos eróticos, mas já tive 2 ou 3 de sua qualidade! Só que essas coisas não se partilham em blogs, não podem ter tudo!

Ah, e uma particularidade dos meus sonhos... Não sei se é comum. Às tantas, é. Os meus sonhos têm banda sonora... That normal?

Gostava de ouvir/ler as vossas experiências no campo dos sonhos, porque realmente, apercebo-me agora, não é daquelas coisas que eu costume falar com as pessoas...

Quais foram os vossos melhores sonhos?

MJNuts

Update: Chegámos aos 65 posts! Boa, Morcegos! Obrigada!

Monday, November 17, 2008

É relativo…

O Optimista diz: «O copo está meio cheio.»
O Pessimista diz: «O copo está meio vazio.»
O Racionalista diz: «O copo tem o dobro do tamanho necessário.»

in «Platão e um Ornitorrinco entram num bar…», Thomas CATHCART e Daniel KLEIN


sempre vossa,

Giovanna


P.S.: CLÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃ!!!!! XD

A Tori Amos Mood

I haven't felt like this since I was 17...

"I get a little warm in my heart when I think of Winter"

"So I turn myself inside out
in hope someone will see"

"We'll see how brave you are"

"I guess that what I'm seeking isn't here"

"I got me some horses to ride on, to ride on
They say that your demons can't go there"

"And this little masochist
is ready to confess
all the things I never thought
that she could feel"

"All the world is all I am
The black of the blackest of oceans"

"If the divine masterplan is perfection
Maybe next time I'll give Judas a try"

"I can be cruel
I don't know why"

"These precious things
Let them break their hold over me"

Winter, Jackie's Strength, Yes Anastasia, Hotel, Horses, Hey Jupiter, Tear In Your Hand, Spark, Cruel, Precious Things, Silent All These Years

MJNuts

"Sometimes, I said sometimes, I hear my voice and it's been here, silent all these years"

Sunday, November 16, 2008

Olá, Eu Sou a Fnac e Ofereço-vos Um Concerto!

Gostaria apenas de deixar aqui registado que os 3 morcegos deste canto poeirento, levantaram voo da sua toca e encontraram-se numa noite fria - mais precisamente, na noite de 14 de Novembro - para partilhar um presente gigante que a Fnac ofereceu.

Pois é, já foram muitos aqueles que se riram na minha cara por dizer que, por vezes, sinto que certas empresas são nossas amigas e que, realmente, tenho orgulho em ser um cliente habitual. A minha queria Fnac celebrou 10 anos em Portugal e decidiu oferecer bilhetes para um mega concerto no Pavilhão Atlântico. O que é que era preciso fazer para os ganhar? Ir à Fnac pedir. Isn't she adorable?

Os Peixe-Avião começaram a marcha. São diferentes (nunca os tinha ouvido). Ao que parece, uma reunião de várias cunhas musicais com uma grande influência de Sigur Rós. Não me pareceu que tivessem tido muita aderência do pessoal, apesar de ter gostado.

A sempre aborrecida Rita Redshoes veio a seguir. É a 2ª vez que vejo a senhora e deixem-me que vos diga que ela não tem presença nenhuma em palco! Somando a isto, eu estava religiosamente à espera que a Ana Bacalhau aparecesse com os restantes amigos, que completam os Deolinda.

E eles chegaram. Agora, minha queria Bacalhau, porque raio deixaste tu de vestir as tuas roupas folclóricas e características dos temas que cantas para vestires umas piroseiras que parecem ter sido compradas na Bershka? Não compreendo. No entanto, não evitei gritar pelo teu nome, por te pedir para me fazer um filho e por fazer ouvir a minha voz em todas as músicas que conseguia cantar contigo. Não resisto em dar toda a minha força à sua melodia. Continuas no bom caminho, mas a ver se se despacham a vir com o novo albúm, que o povo já se vai cansando das mesmas histórias. Mas quem é que resiste?

E eis que chegou o GRANDE momento do concerto. O momento em que os Clã apareceram e, para grande surpresa minha, deram um espectáculo que arrasou brutalmente com todos os outros artistas da casa. Aquela Senhora tem uma força e uma genica tão contagiantes que foi impossível tirar os olhos dela e não dançar no meio de toda aquela energia. Manuela Azevedo está mesmo de parabéns pelo show brilhante que maravilhou toda a plateia do Pavilhão Atlântico. 5 estrelas.

Por fim, lá chegaram os Xutos com os seus cenários extravagantes e as suas sempre tão conhecidas músicas. Depois de Clã, eu estava já satisfeito e pronto para me ir embora, mas a verdade é que as músicas que aqueles moços cantam causam em mim sempre uma sensação que nunca consegui explicar. Sabe bem estar ao lado das pessoas de quem gosto e partilhar aqueles versos que, inevitavelmente, nos fazem valorizar ainda mais a amizade que floresce dentro de nós. Mexe cá dentro, pois.

Dito isto, tenho a dizer 'obrigado, Fnac'. Obrigado por nos teres dado uma noite calorosa cheia de música e entretenimento.

Guess

Com isto tudo, aqui os vossos anfitriões esqueceram-se de tirar uma fotografia os 3 para pôr no profile aqui do nosso cantinho. Terá que ficar para uma próxima.

Porções de Humanidade VI

A obra é de muitas pessoas. O blog não é meu.





















MJNuts

Saturday, November 15, 2008

Fingersmith - o Livro e o Resto

Escrevo este post mais para mim, porque preciso de o escrever, e na verdade quase desejo que ninguém o leia. Por isso vou, logo após o acabar, juntar mais uma compilação de postais e deixar que seja isso o que as pessoas vejam primeiro quando carregam no link deste blog.

Escrevo-o sem querer que o leiam porque Fingersmith, livro e minissérie/filme, foi para mim uma experiência e não quero que a vossa experiência seja arruinada pelos pormenores que não vou poder deixar de referir, pelas revelações de twists a que não posso fugir se me quero fazer entender...

E então aviso... SPOILERS vão estar por todo o lado, porque eu tenho simplesmente de deitar Fingersmith cá para fora... Se há algures na vossa mente a possibilidade de alguma vez verem o filme ou lerem o livro, escusam de gastar a visão através das restantes linhas. Pelo menos por ora. Até porque se não leram o livro ou viram o filme, não vão perceber nada, parece-me.

Disse aqui que provavelmente ainda havia muito deslumbramento no meu discurso. Mas desde então duas ou três semanas passaram e não é poucas vezes que dou comigo a pensar na Sue Trinder ou na Maud Lilly e em como foi aquilo acontecer-lhes... Foram tantas as vezes, que mandei vir o DVD da Amazon... Tantas as vezes, que tive de mandar vir o livro também. Tantas as vezes, que acabei por desesperar na espera e encontrar o .pdf da obra algures na net e foi assim que comecei a leitura.


É um bom livro. Não é perfeito, mas é realmente bom, tanto que foi nomeado para dois importantes prémios da Literatura internacional (o Orange Prize e o Man Booker Prize) e ganhou um outro (CWA Ellis Peters Dagger).

Tal como a sua adaptação, começa a um ritmo agradável e moderado, embora irresistível, mas acaba por precipitar-se para o seu final. Isto acaba por ser menos notório no livro, pois apesar da acção se desencadear de forma quase sedenta a partir de certo ponto, as palavras serão sempre palavras e são lentas na sua essência. Descrevem, expõem, dão-nos a entender coisas que nem sempre são subtis às imagens.

Ao contrário da sua adaptação, o livro pode trazer um certo desespero ao leitor. Porque não é no tempo real da acção. Ou antes, às vezes é, mas volta para trás para depois avançar novamente. Sarah Waters apresenta-nos dois pontos de vista e, como tal, temos de saber ambas as versões da história. E se começamos com a infância de Sue e acabamos a Primeira Parte com o doloroso reconhecimento de que ela afinal era apenas uma peça no jogo traiçoeiro de Gentleman... Passamos logo a seguir para longas páginas da infância de Maud e dos seus pensamentos sobre toda a acção anterior, antes contada pelos olhos de Sue. Confesso-me leitora muito impaciente, por isso até calhou bem ter visto primeiro o filme, senão todas as páginas do ponto de vista de Maud - belíssimas, por sinal, cheias de subtileza, de ódio, de desejo, de requintes de malvadez, de altruísmo inesperado, - me teriam passado ao lado na angústia de querer saber o que está a seguir, não o que já sabia.

O filme não tem este problema. Como já todos sabemos, estas coisas de andar para trás e para a frente podem dificultar a vida a argumentistas, realizadores, actores, espectadores, é uma dor de cabeça! Assim, a partir do momento oportuno, as perspectivas de Maud e Sue são mostradas mano a mano. O que uma está a viver enquanto a outra está a viver qualquer outra coisa.

O livro não tem as interpretações fabulosas de Elaine Cassidy enquanto Maud Lilly e de Sally Hawkins como Sue. Não tem a beleza irresistível de Rupert Evans no papel de Gentleman. Mas bem, teve-me a mim a imaginá-los nas palavras escritas, o que não é dizer pouco.

Há cerca de 3 semanas atrás, quando vi o filme, gostei imenso da Sue, adorei a Maud. Hoje, adoro a Sue e a Maud desperta em mim vários sentimentos, deixa-me pensativa em muitos aspectos. As pessoas têm sempre tendência a preferir a Sue, do que me apercebi de quem consegui convencer a ver o filme (obrigada!), mas sinto que a forma como a Maud foi escrita para a adaptação da BBC não é fidedigna. Paradoxalmente, tenho a certeza que as pessoas iriam preteri-la ainda mais se ela tivesse sido retratada tal como é no livro.

Porque a Maud, independentemente do magnífico trabalho de Elaine Cassidy na adaptação (e sim, eu reparei em gestos quase imperceptíveis que talvez tenham passado despercebidos a muita gente), vive de subtilezas tão ténues que uma pessoa quase tem de reler aquelas linhas para se certificar que entendeu bem. Porque a Maud no livro não é apenas uma pobre coitada que um tio devasso condenou a uma vida limitada de prisão domiciliária. A Maud da obra de Sarah Waters revoltou-se com a sua situação e criou as suas próprias defesas. Ela não chora a morte da mãe... Ela culpa-a por ter morrido e a ter deixado com aquele destino miserável! Ela não é dócil nem doce nem se meteu num esquema tão complicado, apenas porque quer fugir e no processo só uma pessoa insignificante (a Sue, it turns out) é sacrificada. Não, ela cresceu a odiar as pessoas que a fazem lembrar dela, a provocar e mal tratar as aias. Ela cresceu na repressão de afastar de si as palavras perversas dos livros do tio, que lhe foram apresentadas aos 12 anos.

A Maud não é boazinha nem fofinha nem tem qualquer pretensão a vítima das suas circunstâncias de vida. Quando a dura realidade das consequências da sua fuga de Briar a assola, sim, ela é uma vítima. Mas até aí, não.

"Pigeon, my arse."

Esta personagem fascina-me. Nada nela é o que aparenta ser: a inocência, a delicadeza, a bondade... E depois afinal, ela tem gestos, pensamentos, toma atitudes... Que me surpreendem. Que a fazem exceder-se a si própria. Que apenas a tornam tão melhor do que ela própria se julga.

Acho de uma delícia quase amarga que seja a Sue, a fofa e adorável, que nunca tenha tido a coragem ou a vontade de inverter o seu destino e, em paralelo com o seu, o de Maud. A Maud pensou nisso, quase tentou, mas foi Sue que, inconscientemente, não lho permitiu. Acho bonito que Maud tenha tentado salvar Sue de uma dor imensa, da dor de se saber traída por alguém que considerava mãe... Enquanto Sue, por seu lado, preferiu trair a Maud e orgulhar a mãe que acabou a abandoná-la...

Muitos amores trocados, não é?

Não há propriamente bons ou maus por aqui. Embora Gentleman na sua vilania se aproxime muito disso e se chegue a um ponto em que nós, tal como Maud ou Sue, temos um certo receio das ideias que irão sair daquela cabeça e quase nos encolhemos quando ele aparece. O personagem está muito bem construído. Rupert Evans é muito bonito, é sim senhor, sabe Deus que eu o apreciei muito sorridente várias vezes enquanto ele seduzia a Maud ou admoestava a Sue... Mas efectivamente não esteve à altura do personagem que lhe coube em mãos. O Gentleman de Evans tem o seu quê de nojentinho, não o nego, mas não é asqueroso no sentido de provocar medo, de quase lhe desejarmos a morte.

Devia falar da Sue? Não há muito a dizer. A Sue é de facto adorável. Na sua simplicidade, tem um fundo bom. Na sua simplicidade, tem uma lealdade imensa às pessoas que a criaram e com quem viveu toda a vida, lealdade essa que acaba por não a colocar na melhor das situações. Sim, ela afeiçoa-se a Maud e sim, por momentos, deseja salvá-la do seu destino horrível. Mas é um desejo passageiro, que ela prefere ignorar. Como pessoa simples, Sue é também cobarde e acaba vítima da sua cobardia. Da mesma forma que Maud acaba vítima do ressentimento ante a vergonha de Sue.

Que tem Fingersmith de especial? Não sei. Bateu-me fundo, porque é muito humano, mesmo que a sua humanidade seja invulgar. E, como tudo o que é humano, atinge-me em pontos que eu nem sabia que tinha. Não consigo deixar de pensar nos inúmeros detalhes que poderiam ter feito com que a história tivesse outro rumo, caso Sue ou Maud assim o quisessem. As incontáveis vezes em que palavras ficaram por dizer e as acções por fazer... Sim, é um livro, logo não havia volta a dar que já tinham o destino traçado. But still... It was all pretty real to me. Era algo muito próximo de mim. Do que sinto e não sinto, do que gostava de sentir.

Gostava que o filme tivesse mantido certos pormenores que me comoveram no livro. Como o facto de o nome Maud ser sagrado para a Sue e só o ter pronunciado quando já não havia impedimentos. No filme, a dada altura, a Sue deixa para lá a sua condição de aia e é Maud para aqui, Maud para ali. Também achei bonito como no livro se revelou lentamente o modo como a vida de Maud se alterou com a chegada de Sue. Ela era fechada, não estava habituada ao contacto humano. Não havia ternura ou sequer o toque na sua existência. A Sue chega e é divertida e despreocupada e está habituada ao toque como algo normal, que faz com toda a gente. Da primeira vez que a Sue tenta fazer o gesto básico de dar o braço, como duas amigas normais fazem, a Maud retrai-se, quase treme. E a Sue tem de ir conquistando o direito a um tipo de toque tão simples que o vemos diariamente em montes de gente no meio da rua... No filme, aquilo ao segundo dia já é abraços e é uma festa e até é a Maud que toma a iniciativa...

Enfim, pequenos pormenores. Já estou a falar demais, não já? E não disse nada de jeito... Talvez um dia releia isto e escreva mais e mais, tudo o que hoje me esqueci.

MJNuts

Wednesday, November 12, 2008

Bolas, Só Tretas Por Todo o Lado!

Foi-me informado algures de manhã, por caminhos perigosos e subversivos, que um canto cibernético se tinha resolvido dedicar a gozar com esta banca de disparates... E o que me espanta é que ninguém antes tenha gozado! Então nós damo-nos tanto ao riso... Ah, o mundo é hoje um lugar mais sério!

Caro João Doe... Muito agradecida pela atenção! Só aqueles sobre os quais é feito humor são importantes o suficiente! Pelo menos para si. E convenhamos que o senhor tem de facto piada, o que me obriga a controlar o ego inchado. Excelente referência à Björk no seu post de abertura!

Venham de lá mais bons posts, com potencial sério de ultrapassarem estes daqui! Ai se me começa a roubar visitantes...

MJNuts

Tuesday, November 11, 2008

Que Dia é Hoje?

Hey, my fellow readers!

Queria apenas deixar aqui um pequeno testemunho da importância que o dia de hoje tem para mim. Hoje perguntei a imensas pessoas se sabiam o que se festejava hoje - 11 de Novembro. Se não sabem, shame on you! Um Cavaleiro, um Mendigo com frio, uma capa dividida ao meio, um acto nobre que tornou este cavalheiro no São Martinho.

Hoje foi um dia feliz. Cheguei à Escola com vontade de partilhar toda a minha alegria deste dia, que nem uma criança com vontade de desenhar castanhas e afixá-las no placard da sala de aula. Pois é! Quantos de nós não pintávamos as castanhas gigantes e depois as afixávamos para todos verem com orgulho as nossas pequenas obras?

Hoje espalhei a boa nova mesmo com os meus amigos mais próximos que não estavam ao pé de mim. Foram cumprimentos que me tocaram estranhamente e me fizeram continuar o meu dia ainda mais feliz e cheio de vida. Na cantina, ofereceram-me castanhas assadas e a Dª Adelaide do Bar ofereceu uma mão cheia delas por lhe ter desejado um dia cheio de emoção!

As pessoas estavam contentes e deixaram-se contagiar pelas músicas da Disney, que, entretanto, comecei a cantar e, especialmente, pela música que criei para este dia especial. Sim, porque acordei e percebi que o Dia de São Martinho não tem nenhuma música festiva! Alguns tentaram convencer-me que sim, que havia uma música, mas ninguém se lembrou do ritmo, da melodia ou mesmo da letra integral. Era qualquer coisa como umas castanhas, que vão de mão em mão e que passam para o pai e para a mãe e para o irmão, whatever... Sei apenas que a minha pequena cantiga deflagrou pela turma e uns, a dada altura, já não me podiam ouvir.

Não entendo. Senti-me hoje num espírito que não tem nome - espírito martinense. Senti realmente alguma coisa que me aqueceu o coração, coisa que não aconteceu no Natal passado. Hoje, tudo aquilo que aconteceu teve como pretexto o Dia de São Martinho! Os cheer-up-cards que foram passando de mão em mão pela turma, a batata frita furada da Joana, e todas as recordações primárias que me bombardearam a mente calmamente.

A minha mãe chama-lhe Magusto, mas chamem-lhe o que quiserem, queria apenas desejar-vos um Feliz Dia de São Martinho!

E aqui em baixo, deixo-vos, então, a música oficial deste tão alegre dia, a pedido de algumas alminhas.



Guess

Sunday, November 9, 2008

A Vida Lá Na Escola (ESTC)

Fez esta sexta-feira 6 semanas que entrei para a Escola Superior do Teatro e Cinema, na Amadora. Após ter deixado aquele negro, mas importante para mim, curso de Direito, toda a minha vida se tornou num nada que pairou durante imenso tempo no ar até decidir que cinema era aquilo que devia e queria fazer. Após ter conseguido passar todas as fases de selecção, consegui, finalmente, entrar para aquilo que, no fundo, sempre quis. A vida lá na Escola?

Durante a semana que passei na Escola na época de selecção, consegui começar a desenhar as linhas que saíam daquelas pessoas que por lá andavam e procuravam conseguir entrar para o curso. Poucos diziam bom dia e poucos sabiam manter uma conversa sem falar sobre o Gus Van Sant, que realizava excelentemente, ou sobre a estranheza do Inland Empire ou mesmo sobre o mau jeito de Kate Hudson para representar. Havia toda uma procura em ser-se mais sabedor sobre determinado filme ou em arranjar argumentos rápidos e inteligentes que conseguissem defender uma obra pessoalmente adorada. Essa mesma semana foi suficiente para haver segredos, conflitos, competições, más línguas, juízos de valor. Na sexta-feira, não tinha a certeza se conseguia dizer que tinha gostado. A vida lá na Escola?

A vida lá na Escola é cinzenta. Cinzenta como os corredores frios e vazios que atravessam todo aquele edifício. Cinzenta como o silêncio de quem por eles passa solitariamente. Cinzenta como os olhares distantes daqueles que não brincam durante os intervalos. Cinzenta como o fumo do tabaco de todos os que fumam constantemente nas pausas. Cinzenta como o pássaro morto há 3 semanas, que, lentamente, se decompõe nos vidros do tecto de um dos poucos corredores expostos à luz exterior. A vida lá na Escola não é a vida que eu esperava. Somos poucos para uma turma de faculdade - 34 - e, em vez de haver um ambiente familiar propício a conversas em volta de uma fogueira, existe um ambiente amargoso em que todos gritam salve-se quem puder! de forma discreta. Todos querem ser melhores que todos. Todos querem aperfeiçoar os seus trabalhos, fazendo o dobro ou, por vezes, o triplo daquilo que é pedido (imaginem as implicações a que este último remete). Todos querem brincar aos adultos.

Os alunos de Cinema pouco ou nada falam com os alunos de Teatro. Os alunos de Cinema pouco ou nada falam com os alunos de Cinema de anos diferentes. Os alunos de Cinema não têm tempo para actividades que os façam descansar (mas eles querem descansar?). Os alunos de Cinema não se divertem quando têm tempo. Os alunos de cinema acham estranho quem brinca quando tem tempo. Os alunos de cinema acham interessante e novo quem brinca quando tem tempo. Os alunos de cinema são fechados e nada extrovertidos.

Talvez seja a falta de espírito académico que faça aquela Escola ser tão cinzenta, apesar das suas paredes exteriores estarem brilhantemente pintadas de amarelo. Aquelas pessoas parecem ter pavor a tudo aquilo que se relacione com o espírito académico. Eu? Eu tenho dificuldades em viver ali. Entro às 9.30 e saio, na maioria dos dias, às 20h e nã0 tenho tempo para ter uma vida fora daquele lugar. A Escola exige demasiado da minha pessoa. Sinto-me integrado, obviamente, mas não sei se quero fazer parte daquele lugar e fazer daquilo a minha casa durante os próximos 3 anos. Se o fizer, preciso de me agarrar a alguma coisa dentro daquele mundo, que, ao mesmo tempo, me evada do mesmo.

A vida lá na Escola? A pouco e pouco, estou a conseguir disparar uma bala de alegria e liberdade de espírito àquelas pessoas. Já vejo sorrisos, já vejo risos, já vejo alguns pulos. Após ter entrado para a Associação de Estudantes, consegui avançar com a minha ideia de criar uma espécie de Tuna. A ideia sobre a qual muitos se riram e acharam impossível de criar, tornou-se uma realidade em desenvolvimento, com uma participação activa do pessoal de Teatro, que, são, claramente, pessoas bastante mais divertidas que aquelas que habitam o lado norte da rua que divide os dois departamentos. E é isso que eu preciso! Alguma música para pintar aqueles corredores de cor-de-rosa e verde.

Eu sei que existem bombons por lá, que me conseguem alimentar a força para aguentar. Bombons por entre os abraços secretos dos amantes de teatro ou mesmo nas palavras da Professora de Montagem, que exige silêncio aos alunos que ficam no interior da sala, durante o intervalo, a tagarelar só para eu conseguir dormir uns minutos sobre o tampo da mesa.

Fora da Escola, no pouco tempo que tenho, o Jardim Zoológico consegue sossegar a minha ânsia de querer arranjar uma alternativa a este peso.

No outro dia, saí da Amadora às 20h e apanhei, mais uma vez, o comboio para o Oriente. Tinha dormido apenas duas horas na noite anterior e, como tal, encostei-me à janela e ocupei dois lugares para esticar as minhas pernas e descansar um pouco. Um homem passou pelo corredor e viu-se obrigado a desviar-se ligeiramente da parte do meu corpo que estava no seu caminho. Deve pensar que está em casa, refilou. I wish, sonhei eu antes de adormecer quase automaticamente. Quando acordei, a Gare do Oriente já tinha passado pelo comboio. Santa Iria foi onde saí.

Be careful what you wish for.

Guess

Perdoem-me por ter escrito mais palavras que as queria, mas nem estas são suficientes para perceberem a vida lá na Escola.

Thursday, November 6, 2008

Yey for Obama!

E lá ganhou o excelentíssimo senhor Barack Obama, como o davam a entender as sondagens das últimas semanas!

Fiquei feliz, sim senhora, como preferencialmente democrata que sou. Não me interessa que ele seja negro, tal como não me interessaria se ele fosse amarelo, gay, às bolinhas ou cego de uma orelha (sí! es una broma!). Estou-me pouco lixando para o facto de o 44º Presidente dos Estados Unidos da América ser o primeiro presidente afro-americano daquela nação. O que a mim me interessa é que Barack Obama mostrou ser o que está a faltar àquele que costumava ser a primeira potência mundial sem sombra para objecção. Se me perguntarem, Obama é o que falta por aqueles lados há 8 anos.

Agora é esperar e ver se as suas promessas de campanha se mantêm. Se as tropas são retiradas do Iraque de uma forma faseada (a alegria militar que não deve ter sido...). Se as soluções para a crise são eficazes. Estará Obama à altura das lágrimas de esperança que fez soltar?

Tenho alguma fé. E aqui deixo, devidamente citadas, as partes que considero melhores do seu discurso de aceitação do cargo.

"If there is anyone out there who still doubts that America is a place where all things are possible; who still wonders if the dream of our founders is alive in our time; who still questions the power of our democracy, tonight is your answer."

"It’s the answer spoken by young and old, rich and poor, Democrat and Republican, black, white, Latino, Asian, Native American, gay, straight, disabled and not disabled – Americans who sent a message to the world that we have never been a collection of Red States and Blue States: we are, and always will be, the United States of America."

"It’s been a long time coming, but tonight, because of what we did on this day, in this election, at this defining moment, change has come to America."

"I know you didn’t do this just to win an election and I know you didn’t do it for me. You did it because you understand the enormity of the task that lies ahead. For even as we celebrate tonight, we know the challenges that tomorrow will bring are the greatest of our lifetime – two wars, a planet in peril, the worst financial crisis in a century. Even as we stand here tonight, we know there are brave Americans waking up in the deserts of Iraq and the mountains of Afghanistan to risk their lives for us. There are mothers and fathers who will lie awake after their children fall asleep and wonder how they’ll make the mortgage, or pay their doctor’s bills, or save enough for college."

"This is our chance to answer that call. This is our moment. This is our time – to put our people back to work and open doors of opportunity for our kids; to restore prosperity and promote the cause of peace; to reclaim the American Dream and reaffirm that fundamental truth – that out of many, we are one; that while we breathe, we hope, and where we are met with cynicism, and doubt, and those who tell us that we can’t, we will respond with that timeless creed that sums up the spirit of a people:

Yes We Can. Thank you, God bless you, and may God Bless the United States of America."


Confesso, apesar de tudo, apesar da alegria que vi nos jornalistas portugueses que falavam do assunto, que cobriram a notícia, apesar das lágrimas dos americanos, da humildade de Obama, da promessa de mudança que ele deixou no ar... Mesmo assim, o que mais me marcou neste dia de notícias norte-americanas, foi o discurso de John McCain. A forma como teve de calar as vaias dos seus próprios apoiantes (todos eles definitivamente mais parvos do que o seu candidato!), o modo como aceitou humildemente a derrota e elogiou o seu adversário, a maneira como apelou à América que se unisse a Obama no seu esforço pela nação que ambos os candidatos amam, pois só isso os faz estar ali.



John McCain é, sem dúvida, o republicano por quem nutro mais simpatia, de todos os que os mass media me deram a conhecer. (ouviu, Sr. Bush? Sr. W. Bush? Sr. Nixon?)

Bora lá dar a volta a isto, América!

MJNuts

P.S- Adoro como a multidão presente na altura do discurso de McCain era tudo caucasianos de classe média-alta!xD