Sunday, April 6, 2008

Deus?

Tenho andado a sentir-me algo... espiritual. Bem, na verdade nem por isso. Apenas me têm ocorrido questões religiosas sobre as quais os meus Eus interiores gostam de divagar.

Dito isto, não faço a menor ideia de qual será o fio condutor deste post ou sequer se terá lógica no seu todo. Leiam a vosso risco que esta banca de Tretas bem precisa de material novo para não desiludir os seus... vá, seguidores.

Começando, e falando genericamente também, a maior parte das religiões, senão todas (e não estamos a debruçar-nos sobre as seitas derivadas de religiões ditas maiores), surgiram devido à necessidade humana de dar uma explicação minimamente lógica ao mundo que nos rodeia. É claro que se poderá dizer que o divino não tem qualquer tipo de lógica. De seres imortais e omnipotentes, passando por milagres e reencarnações... Não há nada de muito científico por estes lados. Mas afastando-nos desse preconceito... Um Deus a criar o Universo e descansar ao 7º Dia é uma explicação, ainda que duvidosa, de como surgiu o Cosmos. Não está muito longe do Big Bang, até!

Muitas religiões politeístas (e penso particularmente nas da Antiguidade) têm diversos mitos para explicar assuntos como a Morte ou o Amor. Atribuem importância às guerras ou à sabedoria. Através de histórias, contam como surgiram dados animais ou flores. Explicam porque há boas ou más colheitas, porque nem sempre as marés vão a favor dos marinheiros, para onde vão as almas depois da morte física.

Pessoalmente, sou pseudo-humanista. Acredito no Homem e no seu potencial. Custa-me crer que haja muito mais para além da Morte, embora - paradoxalmente ou não - não tenha medo de morrer. Confesso que não gosto da ideia de morrer e puff!, o meu corpo alimenta a terra e somos todos felizes assim, sem mais nada para experimentar. Mas, ao mesmo tempo, se no meu cérebro reside a minha consciência e a minha essência e se o cérebro está morto... Como é suposto eu saber o que há depois disso? Temas complexos, portanto.

Seja como for, o que mais me tem posto a pensar em religiões nos tempos que correm não é propriamente a Morte nem a necessidade de crer em algo, é apenas uma questão curiosa... Assim de repente, ocorrem-me pelo menos 3 religiões com distinção Paraíso/Inferno. Que seria o Catolicismo, e as politeístas Greco-Romana e Escandinava. Tenho a vaga ideia que esta distinção também está presente no Hinduísmo e, tendo em consideração os pilares judaicos no Antigo Testamento, subiríamos este número para 5. Não tenho sequer a pretensão de me considerar especialista em religiões. Não o sou. Sei muito pouco de Judaísmo, Islamismo, Protestantismo... Sei alguma coisa do Catolicismo (e não nego a minha educação católica, que embora arrastada para os confins do meu pseudo-humanismo/agnosticismo, foi de larga contribuição para a pessoa que sou hoje) e da belíssima Mitologia Greco-Romana. Mas estou longe de ser uma enciclopédia sobre o assunto.

Voltando ao que interessa... Dicotomia Paraíso/Inferno. Tenho pensado nisso, porque é curioso. É uma ideia simples, que resulta bem em mentalidades embrutecidas. Resulta bem numa criança, num ignorante, num alfabeto. Resulta bem, portanto, em quê? 80% da população mundial?

A base é do mais elementar que há: faz o Bem, vais para o Paraíso; pões-te com merdas, vais recambiad@ para os confins do Inferno.

Há consenso sobre o Paraíso. Bonitinho e tal. Verdejante. Animais fofinhos (ainda gostava saber que acontece à população lá do sítio se não há predadores naturais para a bicheza), música calminha, pessoas bonitas por ali... Pergunto-me para que são as pessoas bonitas... Quer dizer, se estamos no Paraíso, não podemos exactamente ter sexo com elas, não é? Mas já estou a fugir ao assunto.

O Inferno... O Inferno é assim muito variado! Se não estou errada, culturalmente, o Inferno dos Católicos é o Fogo Eterno. O pessoal porta-se mal, bate as botas e vai assar para a eternidade ao pé de serezinhos com cornos e uma cauda engraçada. É mau, é mau. Não gostava sequer de morrer queimada, quanto mais arder eternamente!

No Oriente, segundo ouvi da boca de geeks (logo, fonte duvidosa - ah! brincadeirinha, gente!), o Inferno está associado ao frio. Seria um Gelo Eterno em vez de Fogo. O que me parece igualmente mau. Não sou propriamente fã de ter frio, é desagradável.

O Inferno de Hades era engraçado, também. Lá o Rio, com as almas todas servindo de água, eternamente deambulando. Tendo em conta o circuito limitado, não me parece a melhor das perspectivas.

Não esquecer que, nessa obra que imagino belíssima e que algum dia hei-de ler - A Divina Comédia -, Dante descreveu não um, mas 9 (nove!) tipos diferentes de Inferno. Nove Círculos de Inferno, cada um pior que o anterior até se chegar ao 9º, no centro da Terra, onde reside Satã. Cada nível castigaria diferentes formas de pecado. Há para todos os gostos. De carregar pedras a fogueiras, a castigos eternos com diversos tipos de demónios. Há, até, níveis de Inferno com zonas e sub-zonas diferentes. É uma festa infernal!

Ora, mas porquê então? Tanto ênfase no castigo para os nossos erros e tão pouca dedicação para os nossos bons actos? Na minha lógica, quem andou fazendo o Bem por aí é que devia ter festa de arromba depois de morto! Mas não, o Paraíso é aborrecido e parado, parece que nada acontece por lá, além de muita paz e espírito calmo. O que também é bom... mas não para a eternidade! Ou sou eu que sou jovem e imberbe?

Pensando no caso, a verdade é até bastante simples... Não se aplica muito a mim, porque efectivamente não sou muito vingativa/rancorosa, mas é claro que se aplica a mim também.

Se reflectirmos honestamente, se tivermos coragem de olhar para dentro e nos admitirmos como somos - uns pobres corações insignificantes (não infelizes, hã?!) -, a verdade é bastante simples. O ser humano, com o muito de animal que ainda tem, é por natureza básico, instintivo, sobrevivente. Não interessa quantos computadores temos ou quão bem conduzimos ou as tecnologias que dominamos. Despidos disso, somos apenas seres vivos. E seres vivos aguentam-se para não morrerem tão depressa! Este aspecto... primário, digamos, da nossa natureza humana traz-nos muitas coisas: egoísmo, impulsividade, irreflexão... e fragilidade.

A verdade dura e simples, parece-me a mim, é que nos é muito mais natural o desejar que algo ou alguém castigue quem nos fez mal, mesmo que esse castigo só chegue após a Morte, do que o desejar a alguém que nos fez bem uma recompensa eterna. Porque ver alguém sair impune pelo mal que fez é muito mais doloroso, a injustiça parece corroer-nos o sangue. Quando alguém pratica bons actos... espera-se que seja gratificante a sensação que fica após os seus resultados. Espera-se que isso baste.

É claro que muitos velhotes andam por aí agradecendo ao dizer "Deus te pague" ou coisas do género... Mas a perspectiva infernal dos desejos humanos é em muito maior escala. Digo eu. Até na nossa apreciação do karma, a coisa flui neste sentido. Fazemos boas coisas para boas coisas nos acontecerem a nós, mas desejamos que o mal que os outros fazem lhes seja dirigido de igual forma. Se formos nós a fazer o mal... Ah, esquece lá o karma.

É engraçado. Ainda tenho de fazer um estudo sociológico sobre isto.

E Deus, onde está? Qualquer que seja o nome que se lhe dá? Seja quem for, tem com certeza um genial sentido de humor...

... E é o maior voyeur da História.

MJNuts

Edit: substituído Cristianismo por Catolicismo nos sítios onde era devido. Obrigada pela dica, Aurora.

7 comments:

Nia said...

Sendo assim, se afirmas que Deus é o maior voyeur da história, acreditas no dito cujo. É uma grande frase, sim senhora. Tal como muitas outras.

E esse estudo sociológico que avance, tens imenso para partilhar/ensinar/elucidar/"eloquentizar" ;)

Anonymous said...

Ora bem... quanto á parte de o paraíso parecer secante, posto dessa maneira realmente é um bocado verdade. Vá é boring! O que me leva a reforçar uma ideia que tive há uns tempos.

Tudo surgiu quando vi num programa de televisão (a copia da Oprah) uma senhora e suas 2 filhas da religião Baptista (que nos EUA, é um bocado extremista) a afirmarem e a dizer completas barbaridades acerca do pessoal gay e lésbico e que eram totais pecadores e estavam perdidos e eram uma vergonha autentica e que mereciam morrer e nem ser considerados pessoas sequer! Isto tudo usando a palavra prejurativa equivalente em inglês a: bichas, repetidamente!
Afirmavam também (várias vezes), como forma de aviso e alarme, que essas pessoas íam parar, claro, ao INFEEEERNO!!!! Ora, perante esta total inflexibilidade de liberdade de escolha, direito á diferença e falta de visão, e pelo meu estado de total choque, pus-me a pensar: mas que raio,e qual é p problema de ir para o inferno??? e se eu quiser e gostar???? o que é que aquelas pessoas insignificantes têm a ver com isso? eu faço o que quero da minha vida, quer dizer da minha morte! Qual o problema delas???!!! Mais espaço há para eles, no entediante paraíso! Eu até posso gostar de lá... Inferno, por que não?!

Portanto, n percebo como é que alguém perde momentos da sua vida a dedicar-se ao destino da mortes de outras que n conhece e nem sequer gostam. Mas é que elas faziam mesmo só aquilo da vida delas, a tal mãe ate punha os seus filhos de quê? 6, 5 anos com cartazes a dizer que o maricas eram isto e aquilo!
Como também n percebo, pq raio as pessoas nc questionam: inferno...porque não? Dando o paraíso garantido como único local que vale a pena estar na dita "vida depois da morte". Talvez diga isto pq n acredito nela, quem acredite deve com certeza ter mais preocupações quanto a isso, mas ainda assim vivemos no mundo já avançado (ou pelos vistos não) em que já muita gente escolhe, prefere, se dedica a coisas que em tempo idos seria imaginável!!!

Cá para mim, é tudo uma questão de perspectiva!


Ah! só a titulo de curiosidade, a tal senhora e filhas afirmavam até que ainda bem que tinha acontecido: o 11 de setembro (imagine-se um americano dizer isto!! ainda mais na televisão), o desastre do tsunami por exemplo, tudo por obra de Deus como forma de, ou direi oportunidade, como hei de dizer de eliminar mais alguns gayzitos e lesbicas que andassem pelo mundo! Assim coisa pouca sabem...

Morcegos no Sótão said...

Bem, cara Nia, não é que acredite... Mas se efectivamente ele existir, é um voyeur do mais alto nível!xD Então está lá em cima a ver MILHARES de pessoas a ter sexo ao mesmo tempo, das mais varuadas formas!LOL

Ah, adorada twin... Pois é. Americano extremista é o que não falta. E se efectivamente houver Paraíso e Inferno e o Paraíso estiver repleto de pessoas como esses entrevistados... Então venha de lá o Inferno. Mas a verdade é que o Bem e o Mal são muito relativos... Será que quem merece o Céu ou Inferno está sujeito a essa relatividade também?

MJNuts

Unknown said...

Entre o Inferno e o Paraíso.... hummm bem venha o Diabo e escolha :P à semelhança de que o Natal é qd o Homem quiser o Inferno é como o homem quiser. Há para todos os gostos, tamanhos e feitios. Há pro menino e pra menina ;) Se bem que para as criancinhas que se portam mal há o Limbo. Bom, referindo ao que verdadeiramente interessa, a Religião existe especialmente por dois motivos, explicar o inexplicavel, e acreditar k após ter perdido as duas pernas e ter uma doença terminal num estado avançado, Deus está a fazê-lo passar por isso por alguma razão. (Não sei qual será, a não ser a juntar ao facto de ser um vouyer é também um sádico)... Enfim... já me estou a perder no raciocinio... A religião para explicar o que não percebemos e é também uma bengala. É confortante pensar k akeles que se escaparem à justiça humana terão do outro lado à sua espera a condenação eterna. Ou seja é sacudir a àgua do capote. Já k nós não fomos capaz de o apanhar a tempo alguém do outro lado o há-de fazer.

Hoje em dia há uma variada escolha de Religiões e podemos escolher a que mais nos convém, como nos bancos, se os juros não nos agradarem mudamos.

Embora sejamos o único animal que tem consciencia da sua propira morte, ou seja de que a sua vida é finita, o nosso inconsciente debate-se km isso, por isso nos sonhos não morremos, ou se morremos nos vemos no nosso funeral ou acordamos quando estamos quase a levar aquele tiro mortal...

e bem se Deus existir... e o paraiso e o inferno também... o paraiso será o equivalente ao deserto do saara e o inferno... bem esse... ao colombo em vésperas de natal... ;)

Aurora said...

Sem querer ser chata, aquilo a que chamaste cristianismo é na verdade catolicismo (o catolicismo e o protestantismo são vertentes diferentes de cristianismo)... sei que como "ateia" não sou grande autoridade na matéria, mas isto de estar num país onde para além dessas 2 ainda existe a "Church of England" (ou Scotland) tem destas coisas...

Quanto ao resto, gosto da tua teoria, e arrisco-me a acrescentar: como espécie, faz sentido que atribuamos mais importância ao inferno que ao paraíso - se não tivessemos medo do inferno, matavamo-nos para irmos para o paraíso mais depressa, e lá se ia a espécie num ápice! ;)

Morcegos no Sótão said...

Sim, Aurora, tens toda a razão. =) Isto porque Cristianismo tem a ver com a doutrina de Cristo e diferentes religiões a utilizaram à sua maneira...

Até alterava o post, mas assim o teu comentário deixava de fazer sentido!;P Obrigada pelo apontamento!

Liliana, acho que o que não consegui explicar tão claramente como o fizeste no teu comentário, é mesmo que as pessoas precisam de acreditar no Inferno por uma questão de justiça... divina, vá, quando pessoas que fazem tantos actos hediondos ou causam tanto mal parecem sair impunes no sistema dos Homens.

MJNuts

Anonymous said...

Sem duvida alguma o nome dado a este blog, foi muito bem escolhido “Tudo Tretas”.
É disso que realmente se trata, tretas, blá, blá, blá.
Usam palavras caras para fazerem show e dizerem que sabem escrever e usar tais palavras.
Referente ao(a) nosso(a) autor(a) MJNuts, nada tenho a dizer, apenas rir me na cara dele ou dela, trata o leitor como sendo quase como um escravo deste blog. Reparem bem, “vá, seguidores…” mas que bela forma de tratar os leitores deste blog. Sinceramente acho que sim, continuem a tratar assim os leitores.