Tenho-me vindo a aperceber que sou uma apaixonada pela Humanidade. Não sabia, a sério.
Dei por isso quando, de cada vez que falava de uma série em conversa, dizia coisas do estilo: "Gosto muito deste personagem porque é extremamente humano, muito real" ou então "esta série não tem nada de especial, não traz nada de novo ao mundo da televisão, mas é muito humana, toca nas nossas fragilidades e reconhecemo-nos ali".
Eu demorei muito tempo a aperceber-me que sou uma humanazinha normal, como outra qualquer. Durante anos idealizei uma imagem de mim mesma que estava numa espécie de realidade etérea, um subconsciente mais além, preso na humanidade de todos nós. Mas a Vida serve para isso mesmo e lá aterrei. Apercebi-me das minhas forças e fraquezas, ganhei consciência da parafernália de defeitos que tenho. Da minha natureza cinzenta, capaz de coisas óptimas e terríveis. Aprendi a ser franca com todos os meus podres que vêm ao de cima. A assumi-los e a não os temer. Mesmo que alguns infelizmente não saiba ou não tenha a habilidade de combater.
A natureza humana é estranhamente idêntica em todos nós. Uns mais expansivos, outros mais tímidos, uns bondosos e outros cruéis. Mas há sempre pontos em comum. Há sempre mágoas e frustrações, amores e alegrias.
Quando os sabemos ver em nós mesmos, todo o Mundo ganha outras cores. Porque passamos a estar aptos a ver nos outros. O conseguir ver é um grande passo a caminho do conseguir compreender. E quem compreende tem o coração aberto, a alma disponível. Mesmo que não se dê ou não reconheça em si a capacidade de sentir facilmente. A compreensão abre portas de outros mundos, permite olhar para lá do óbvio. Estabelece empatia e ligações.
Há muitos seres humanos e a maior parte não nos diz rigorosamente nada. Há muitas coisas que nada nos dizem, mas a que achamos uma certa piada. Há outras coisas que nos tocam num nervo. Há histórias que podiam ser a nossa, há histórias que nos tocam, histórias que nos atraem, histórias de que fugimos.
Há muitas pessoas e muitas vidas e todos partilhamos algo em comum: o ser humano. O ser humano sofre e tem dúvidas e pensa e sente. Somos todos assim, independentemente de onde viemos, do para onde vamos, do que queremos ou do que não conseguimos querer.
Vejo agora humanidade em todo o lado. Não podemos fugir dela, para o bem ou para o mal.
E o melhor da humanidade é que comove e choca, nas suas ínfimas porções.
Vou pegar naquele que suponho ser o melhor e mais intimista blog a que alguma vez fui parar, http://postsecret.blogspot.com/ , para mostrar quão semelhantes acabamos todos por ser. Não vou mostrar todos, mas tenho alguns preferidos na colecção de postais que vou guardando cada vez que mexem comigo...
Por acaso é bem verdade. E ainda bem!
Não é o que custa? Sinceramente, sinceramente, lá bem no fundo?
E era tão mais fácil se conseguíssemos perceber que às vezes estes muros afastam quem vale a pena...
Achei tão fofo. Fez-me sorrir. Quem quer que sejam, espero que estejam felizes.
Tudo o que fere, marca. E tudo o que deixa marca, traz recordações.
Os podres e os rancores e o que fica entalado e não nos deixa perdoar.
Penso sempre isto quando há um Tu que me faz desejar o Nós. Sempre.
Poderá haver medo maior?
Há esperanças e sorrisos e há sempre a possibilidade de ser feliz. Há pessoas capazes de nos trazerem isso. E nós somos capazes de o dar também.
Pus imensos e mesmo assim não pus todos os que poderia pôr. Estes mexeram mais comigo, talvez sejam humanos mais iguais a mim. =) Mas há muitas pessoas diferentes e muitos deles sentem dores além do que posso imaginar e outras tantos fazem coisas além do que eu consigo compreender. É o ser humano.
Termino com uma frase de um desses postais, que não saiu no blog mas sim no livro do PostSecret. É ao que tudo se resume.
How I wish I could hug everyone and tell them it's okay. It's okay to be scared and angry and hurt and selfish. It's part of being human.
MJNuts
Listening to: Philip Glass - The Hours OST
Às vezes frequentava a sociedade
6 years ago