Fui hoje ver o Little Children/Pecados Íntimos, com a Kate Winslet (nomeada para o Óscar de Melhor Actriz por este filme) e com a Jennifer Connelly. Não é nada mau, mas creio que eu esperava algo diferente. E o fim, sendo extraordinariamente estúpido da parte do protagonista masculino, tem uma beleza fantástica do lado da protagonista feminina (a Kate, lá está), a meias com um dos secundários, o pedófilo local.
O filme é muito simples. Uns subúrbios algures (nem cheguei a perceber onde aquilo seria...), a vida banal que lá se vive e o que as pessoas fazem para fugir a essa sensação de... estar morto. Infidelidade, logicamente. Umas cenas de nus muito giras, etc e tal.
A dado ponto, começamos a compreender melhor a profundidade de cada um dos personagens. Brad, o protagonista masculino, envolveu-se naquela relação extraconjugal pois Sarah o fez sentir algo que há muito estava apagado dentro de si: o entusiasmo, o frenesim, o ter algo que faz as hormonas dispararem velozes no nosso sangue. Sarah, pelo contrário, tem a suavidade apaixonada típica de uma mulher. Envolveu-se porque quis lutar, como ela própria disse referindo-se a Madame Bovary, contra uma vida de infelicidade. Arriscou num amor quase platónico, ignorando o facto de ser casada e de ele ser casado também, ansiando em segredo por um futuro promissor.
Tudo isto num plano de fundo de uma zona suburbana assolada pelo choque de um pedófilo libertado da prisão estar lá a viver.
Creio que não estava com a disposição certa para ver este filme, mas, agora que me debruço sobre ele, parece-me que teve uns quantos pormenores dignos de nota. Uns quantos detalhes que deixavam adivinhar o seu desfecho. Aquela delícia de se perceber tão bem o quão diferentes os homens são das mulheres.
Ao contrário da opinião geral, eu gostei bastante da presença do narrador. Agrada-me sempre quando as coisas parecem parar no tempo e se ouve uma voz monocórdica a aprofundar o que se passa. Ficou-me marcada, a cena de Sarah na piscina, deixando-se enredar cada vez mais no seu encanto por Brad, a olhá-lo a brincar com as crianças na piscina enquanto o narrador diz algo como "For Sarah it was getting harder not to touch Brad, or not to be touched by him".
Engraçado também o amor de mãe, aqui visto em várias vertentes. Como a mãe de um homem assumidamente pedófilo (apesar do único crime por ele cometido ter sido exposição a um menor) ainda acreditar que ele é boa pessoa. E como esse amor acabou invariavelmente por afectá-lo.
Talvez não entre directamente para a lista de preferências da maior parte das pessoas, mas creio que é daqueles filmes que vale a pena dar uma espreitadela.
MJNuts
E a Escrita?
1 year ago
6 comments:
Afinal sempre estavas com vontade de falar do filme, apesar de tudo. XD
A presença de um narrador é sempre uma coisa refrescante para mim. Por exemplo, nas Donas de Casa Desesperadas é uma das minhas coisas favoritas. Os "pensamentos" da Mary Alice são do mais hilariante na série. E depois o narrador imprime ainda mais a sensação de "story telling". Aquela coisa toda do " Once upon a time..."
CHESB
Um narrador por arruinar totalmente algo... ou elevar e dar uma volta a uma ideia. É difícil ser um bom narrador, mas quando se enquadra bem no plot do filme/série, sai algo estupendo. E ver um narrador em algo que não espera narrador, é bem genial. O que serias das Desperate sem a Mary Alice? Se bem que ela agora na terceira sessão tenha companhia...
Acho que é daqueles filmes que precisa de digestão... Tenho a sensação que gosto mais dele agora do que quando o estava a ver ou quando saí do cinema.
Vale a pena a espreitadela. E continuo a dizer que vais adorá-lo, Lili!xD
MJNuts
Já começa a ficar chato isso! Larga o osso rapariga! XD Por este andar ela já nem vê o filme de tanto a chatearem com ele. Eu já nem me meto em recomendações cinematográficas para ela, fiquei deprimido da última vez.
Não gostei do filme como história, mas é sempre bom assistir ao talento de Winslet, é uma actriz desarmante ;)
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