Tenho andado a sentir-me algo... espiritual. Bem, na verdade nem por isso. Apenas me têm ocorrido questões religiosas sobre as quais os meus Eus interiores gostam de divagar.
Dito isto, não faço a menor ideia de qual será o fio condutor deste post ou sequer se terá lógica no seu todo. Leiam a vosso risco que esta banca de Tretas bem precisa de material novo para não desiludir os seus... vá, seguidores.
Começando, e falando genericamente também, a maior parte das religiões, senão todas (e não estamos a debruçar-nos sobre as seitas derivadas de religiões ditas maiores), surgiram devido à necessidade humana de dar uma explicação minimamente lógica ao mundo que nos rodeia. É claro que se poderá dizer que o divino não tem qualquer tipo de lógica. De seres imortais e omnipotentes, passando por milagres e reencarnações... Não há nada de muito científico por estes lados. Mas afastando-nos desse preconceito... Um Deus a criar o Universo e descansar ao 7º Dia é uma explicação, ainda que duvidosa, de como surgiu o Cosmos. Não está muito longe do Big Bang, até!
Muitas religiões politeístas (e penso particularmente nas da Antiguidade) têm diversos mitos para explicar assuntos como a Morte ou o Amor. Atribuem importância às guerras ou à sabedoria. Através de histórias, contam como surgiram dados animais ou flores. Explicam porque há boas ou más colheitas, porque nem sempre as marés vão a favor dos marinheiros, para onde vão as almas depois da morte física.
Pessoalmente, sou pseudo-humanista. Acredito no Homem e no seu potencial. Custa-me crer que haja muito mais para além da Morte, embora - paradoxalmente ou não - não tenha medo de morrer. Confesso que não gosto da ideia de morrer e puff!, o meu corpo alimenta a terra e somos todos felizes assim, sem mais nada para experimentar. Mas, ao mesmo tempo, se no meu cérebro reside a minha consciência e a minha essência e se o cérebro está morto... Como é suposto eu saber o que há depois disso? Temas complexos, portanto.
Seja como for, o que mais me tem posto a pensar em religiões nos tempos que correm não é propriamente a Morte nem a necessidade de crer em algo, é apenas uma questão curiosa... Assim de repente, ocorrem-me pelo menos 3 religiões com distinção Paraíso/Inferno. Que seria o Catolicismo, e as politeístas Greco-Romana e Escandinava. Tenho a vaga ideia que esta distinção também está presente no Hinduísmo e, tendo em consideração os pilares judaicos no Antigo Testamento, subiríamos este número para 5. Não tenho sequer a pretensão de me considerar especialista em religiões. Não o sou. Sei muito pouco de Judaísmo, Islamismo, Protestantismo... Sei alguma coisa do Catolicismo (e não nego a minha educação católica, que embora arrastada para os confins do meu pseudo-humanismo/agnosticismo, foi de larga contribuição para a pessoa que sou hoje) e da belíssima Mitologia Greco-Romana. Mas estou longe de ser uma enciclopédia sobre o assunto.
Voltando ao que interessa... Dicotomia Paraíso/Inferno. Tenho pensado nisso, porque é curioso. É uma ideia simples, que resulta bem em mentalidades embrutecidas. Resulta bem numa criança, num ignorante, num alfabeto. Resulta bem, portanto, em quê? 80% da população mundial?
A base é do mais elementar que há: faz o Bem, vais para o Paraíso; pões-te com merdas, vais recambiad@ para os confins do Inferno.
Há consenso sobre o Paraíso. Bonitinho e tal. Verdejante. Animais fofinhos (ainda gostava saber que acontece à população lá do sítio se não há predadores naturais para a bicheza), música calminha, pessoas bonitas por ali... Pergunto-me para que são as pessoas bonitas... Quer dizer, se estamos no Paraíso, não podemos exactamente ter sexo com elas, não é? Mas já estou a fugir ao assunto.
O Inferno... O Inferno é assim muito variado! Se não estou errada, culturalmente, o Inferno dos Católicos é o Fogo Eterno. O pessoal porta-se mal, bate as botas e vai assar para a eternidade ao pé de serezinhos com cornos e uma cauda engraçada. É mau, é mau. Não gostava sequer de morrer queimada, quanto mais arder eternamente!
No Oriente, segundo ouvi da boca de
geeks (logo, fonte duvidosa - ah! brincadeirinha, gente!), o Inferno está associado ao frio. Seria um Gelo Eterno em vez de Fogo. O que me parece igualmente mau. Não sou propriamente fã de ter frio, é desagradável.
O Inferno de Hades era engraçado, também. Lá o Rio, com as almas todas servindo de água, eternamente deambulando. Tendo em conta o circuito limitado, não me parece a melhor das perspectivas.
Não esquecer que, nessa obra que imagino belíssima e que algum dia hei-de ler -
A Divina Comédia -, Dante descreveu não um, mas 9 (nove!) tipos diferentes de Inferno. Nove Círculos de Inferno, cada um pior que o anterior até se chegar ao 9º, no centro da Terra, onde reside Satã. Cada nível castigaria diferentes formas de pecado. Há para todos os gostos. De carregar pedras a fogueiras, a castigos eternos com diversos tipos de demónios. Há, até, níveis de Inferno com zonas e sub-zonas diferentes. É uma festa infernal!
Ora, mas porquê então? Tanto ênfase no castigo para os nossos erros e tão pouca dedicação para os nossos bons actos? Na minha lógica, quem andou fazendo o Bem por aí é que devia ter festa de arromba depois de morto! Mas não, o Paraíso é aborrecido e parado, parece que nada acontece por lá, além de muita paz e espírito calmo. O que também é bom... mas não para a eternidade! Ou sou eu que sou jovem e imberbe?
Pensando no caso, a verdade é até bastante simples... Não se aplica muito a mim, porque efectivamente não sou muito vingativa/rancorosa, mas é claro que se aplica a mim também.
Se reflectirmos honestamente, se tivermos coragem de olhar para dentro e nos admitirmos como somos - uns pobres corações insignificantes (não infelizes, hã?!) -, a verdade é bastante simples. O ser humano, com o muito de animal que ainda tem, é por natureza básico, instintivo, sobrevivente. Não interessa quantos computadores temos ou quão bem conduzimos ou as tecnologias que dominamos. Despidos disso, somos apenas seres vivos. E seres vivos aguentam-se para não morrerem tão depressa! Este aspecto...
primário, digamos, da nossa natureza humana traz-nos muitas coisas: egoísmo, impulsividade, irreflexão... e fragilidade.
A verdade dura e simples, parece-me a mim, é que nos é muito mais
natural o desejar que algo ou alguém castigue quem nos fez mal, mesmo que esse castigo só chegue após a Morte, do que o desejar a alguém que nos fez bem uma recompensa eterna. Porque ver alguém sair impune pelo mal que fez é muito mais doloroso, a injustiça parece corroer-nos o sangue. Quando alguém pratica bons actos... espera-se que seja gratificante a sensação que fica após os seus resultados. Espera-se que isso baste.
É claro que muitos velhotes andam por aí agradecendo ao dizer "Deus te pague" ou coisas do género... Mas a perspectiva infernal dos desejos humanos é em muito maior escala. Digo eu. Até na nossa apreciação do
karma, a coisa flui neste sentido. Fazemos boas coisas para boas coisas nos acontecerem a
nós, mas desejamos que o mal que os outros fazem lhes seja dirigido de igual forma. Se formos nós a fazer o mal... Ah, esquece lá o
karma.
É engraçado. Ainda tenho de fazer um estudo sociológico sobre isto.
E Deus, onde está? Qualquer que seja o nome que se lhe dá? Seja quem for, tem com certeza um genial sentido de humor...
... E é o maior
voyeur da História.
MJNutsEdit: substituído Cristianismo por Catolicismo nos sítios onde era devido. Obrigada pela dica, Aurora.