Pois que voltei a Barcelona...
Da primeira vez não gostei por aí além. Tinha tudo para ter gostado, mas não achei piada. Dois melhores amigos (três?), bom tempo, uma cidade nova por explorar... Mas entre amores desencontrados e cabeça a mil à hora, estive 5 dias em Barcelona e saí de lá a achar que a cidade não merecia os tamanhos louvores que tantos lhe fazem...
Resolvi voltar, então. Não percebia porque é que eu, que gosto tanto de viajar, que não sou particularmente exigente no que diz respeito a apreciar o local onde pouso os pés, não tinha gostado de Barcelona. Queria dar outra oportunidade à cidade.
São as maravilhas do Erasmus, não é? Cá por Londres, no 1º semestre, conheci uma espanhola que estuda em Barcelona. Então juntei-me a uma francesa e toca de a irmos visitar. Para quê fazer Erasmus se não é para aproveitar as casas que se nos vão oferecendo mundo fora?
Estivemos lá 4 dias. Os primeiros dois foram estranhos para mim. Estava a começar a acreditar que eu e Barcelona não jogávamos bem no
karma... A minha cabeça, que andava pacífica e organizada, tornou a correr a mil à hora. Sentimentos, sensações, pensamentos... Um aperto no peito que me gritava
unease. Que não me deixava olhar em volta e apreciar. Que me fazia o coração doer.
Vim de Londres tão descansada, de coração sereno, e chego a Barcelona e ele dispara com imagens que não o deveriam ter afectado. Com momentos que não significam nada e a que ele quer dar sentido. Chego a Barcelona e, de repente, 10 horas da minha vida, danças e conversas, são o mundo inteiro.
10 horas... Não quero nada disso. Mas não tenho outro remédio senão aceitá-lo. Resistir dói muito mais.
E então fecho os olhos e respiro fundo. Abro os olhos novamente e vivo Barcelona.
Barcelona é viva e vibrante, cheia de boa disposição. Barcelona não cheira propriamente bem e é barulhenta. Mas as pessoas sorriem pelas ruas e tagarelam alegremente. Não parecem preocupadas com trabalho e chatices, estão ali, estão a aproveitar.
Passeando por Barcelona, vêem-se mil tons de pele e ouvem-se mil línguas e é fascinante. O metro é confuso e parece que se andam quilómetros lá dentro. O castelhano e o catalão misturam-se num coro animado. O inglês soa estranho e é difícil de entender.
Fui a Barcelona com uma francesa e fiquei em casa de três espanholas. Fui a uma festa com italianos, coreanos, franceses e espanhóis. O meu cérebro explodiu com tanta diversidade. Algures em Barcelona, deixei de ser portuguesa por momentos, e fui uma cidadã do Mundo. Algures em Barcelona, falei mais línguas, e melhor, do que as que sei. Há tantas pessoas, tantas vidas ainda por conhecer...
Em 4 dias, fiz as pazes com Barcelona. Fiz as pazes também com o Carnaval, depois de anos e anos de repressão causados por traumas de infância. Carnaval em Barcelona é tambores pelas ruas, miúdos e graúdos mascarados, é pirâmides humanas no meio de praças, é carros alegóricos maravilhosos de tão maus que são...
Em Barcelona, abracei o barulho e vivi o barulho. Continuo a adorar o silêncio, mas o barulho extasia-me.
Em Barcelona, descobri que, a pouco e pouco, sou uma pessoa melhor e mais crescida, uma pessoa com mais valor.
Em Barcelona, apercebi-me que continuo com medo. E que ainda não acredito.
Te quiero, Barcelona.MJNuts