Sunday, December 27, 2009

Maturidade?

Ontem depois do jantar, em família, e sabe-se lá porquê, veio à baila o tema da maturidade. Disse-se o já sabido que, socialmente, o atingir da maturidade chega aos 18, mas há crianças com 8 ou 9 anos que já têm mais maturidade que adultos muito para lá dos 18. Disse-se que não vale a pena procurar a maturidade, que a vida encarrega-se disso.

Disseram-me a mim que maturidade é um desejo de assentar, de querer estabilidade. É diferente de querer casar e ter filhos como o mainstream parece sonhar. Maturidade é assumir as responsabilidades. É parar e criar a nossa vida à nossa volta. Acabar um curso e arranjar um trabalho, mesmo que não se goste muito dele. É manter esse trabalho porque o dinheiro faz falta, mas usá-lo para alimentar outras paixões. Não se gosta de estar atrás da secretária, mas gosta-se de teatro e fotografia. Há tubos de escape. São tubos de escape para a maturidade?

Maturidade é ser casado e ter dois filhos e de repente acordar-se com vontade de não ter nada disso, mas ficar mesmo assim, porque é nossa responsabilidade para com os que amamos.

Foi o que eles disseram. Ainda estou para decidir se concordo ou discordo. Tenho noção de que não sou a mais madura das criaturas de 23 anos, mas independentemente do meu caso, se alguém tem 50 anos e é missionário e toda a vida viajou pelo mundo a ajudar os mais necessitados sem nunca parar, sem nunca comprar uma casa e fazer uma vida à sua volta, essa pessoa é imatura?

Até que ponto maturidade está associada ao conceito de assentar? E será "assentar" outra forma de dizer "parar"? Ou "assentar" vem sob diferentes formas? Se aquele missionário de 50 anos decidiu conscientemente passar assim a sua vida, se é isso que o faz feliz, não será possível que ele tenha assentado na sua mobilidade? Eu acho que é.

Também acho que maturidade é mais do que a idade, mas que com a idade vem muita coisa. Tenho a sorte de conhecer gente de muitas faixas etárias. Já vi putos de 16 anos estúpidos que nem uma porta e miúdos de 17 anos capazes de chegar muito mais além, de pensar racionalmente e de assumirem a responsabilidade dos seus actos e decisões. Mas a verdade é que, em certas coisas, em certos momentos, nota-se sempre que aquela pessoa tem 17 anos e não 25. Maturidade chegada cedo não nos torna mais sabedores sobre a vida, só nos torna mais... maduros.

Um puto de 18 anos é sempre um puto de 18 anos. Não interessa que tenha tido o pai em coma ou que a melhor amiga tenha cometido suicídio. Ficam dores e aprendizagens que se a Vida fossem rosas, nunca chegariam, mas há erros que ainda têm de ser cometidos. Há pequenos pedaços de ingenuidade que têm de desaparecer, porque a magia dificilmente dura para sempre e dá lugar ao cinismo e ao despeito.

Por isso, não, não sou a mais madura das pessoas da minha idade. Muitas já trabalham e já têm a sua vida delineada. Eu não tenho nada. Estou quase a acabar um curso que não quero exercer. Não quero encontrar um trabalho para me prender, mas também não quero fugir. Eu sei o que preciso e o que procuro.

Tenho uma inquietação em mim que há muito cá anda. Mas a Vida acontece e faz-nos crescer e crescer também é conhecermo-nos melhor. Eu, para já, não quero a vida normal, porque nela não encontro serenidade. É isso que eu procuro. Serenidade. Encontrei-a uma vez e deixei-a escapar, por isso agora carrego diariamente nos ombros o peso de a ter perdido. Mas tenho esperança que algures aí, à espreita, esteja algo ou alguém para me agarrar e me impedir de fugir e me mostrar que vale a pena ficar.

Até lá, vou dando passos leves aqui e ali, nunca estando realmente em lado nenhum. Até lá, sorrio e converso e rodeio-me de gente e às vezes atinjo uma quase-completude e outras vezes quase me entrego por inteiro. Mas a verdade é que ainda não estou inteira. E até estar, eu terei de bastar-me a mim mesma e encontrar força nos que me amam.

MJNuts

9 comments:

Guess said...

A big AMEN to that.

Pintas nos Olhos said...

"Até lá, vou dando passos leves aqui e ali, nunca estando realmente em lado nenhum. Até lá, sorrio e converso e rodeio-me de gente e às vezes atinjo uma quase-completude e outras vezes quase me entrego por inteiro."

Acho que este excerto de descreve muito bem.
Até lá os que te amam estarão cá para te dar força.

"Foram caças ao tesouro
Onde só mais tarde realizámos
Que o tesouro maior foi a procura
E não o prémio que ganhamos"

Vais ver que no caminho é que vai contar ;)

PP said...

Muito boa reflexão! Acho que a maturidade não passa por atingir patamares, acumular responsabilidades... acho que tem mais a ver com a forma com que lidamos com as coisas, sejam elas pormenores do dia a dia ou realmente coisas mais complexas! Crescer e ganhar maturidade acaba por ser a capacidade de conseguir resolver um maior numero de situações que se nos deparam alem do prolongar um pouco mais o nosso horizonte... A maturidade não é de todo uma caracteristica transparente, tal como dizes mais cedo ou mais tarde vao se revelando pormenores que a definem.
Por fim o teu ultimo paragrafo acho q define o que deve ser a Vida e se a tua é assim então acho que essa serenidade não deve andar assim tão longe! ;)

Duriel said...

Tenho que concordar a 100% quando a Pintas nos Olhos diz que o caminho é que conta!

Mas o post é sobre Maturidade...

Eu como não suporto a ideia do trabalho das 9 às 5 para criar família de 2+ filhos como a sociedade quer, nunca posso ser maturo?

Para mim, maturidade está acima de tudo ligada à capacidade de tomar decisões "pensadas" tendo em vista as suas consequências, e aceitar a responsabilidade por estas.
Na essência não tem a ver com felicidade.

É também diferente de estabilidade. Uma pessoa pode ser muito matura e estar sem dinheiro e emprego, claramente "financeiramente instável". Aí concordo totalmente com a MJNuts no exemplo do missionário.

Rita said...

maturidade é isso mesmo "tomar decisões pensadas"...e qdo essas decisões têm de ser pensadas é porque existem já algumas responsabilidades ou efeitos colaterais a determinada acção/opção que possamos ter/tomar. Agora maturidade n tem a ver com filhos e trabalho das 9 às 17h mas sim atingir o nosso equilíbrio e serenidade da NOSSA forma e não da forma que nos é imposto pela sociedade... (acho que foi isso que retirei da dita conversa que veio à baila tb não sei porquê...ou talvez o que me apeteceu ouvir ahaha)

Morcegos no Sótão said...

Rita <3

Acho que retirámos aquilo com que nos identificamos... Ou aquilo que mexe com as nossas convicções sem a gente dar por isso.

E com o que tu disseste, concordo. Mais do que parar, maturidade é tomar decisões conscientemente e assumir as suas consequências. Independentemente de decidirmos casar ou de decidirmos ser nómadas.

MJNuts

André Pereira said...

Vejamos a fruta. Uma peça de fruta verde geralmente é pequena, dura e não tem um sabor agradável, já uma peça de fruta madura tem sabor, é grande e vistosa e algumas são moles.
O que quer isto dizer em termos humanos?
Uma pessoa que ainda não possa ser considerada madura, as crianças ou até mesmo alguns adultos, são normalmente pessoas sem muita experiência de vida, sem muitos conhecimentos, responsabilidades, ainda não sabem o que querem. Agem com total inexperiência em relação ao mundo real, seja a qualquer nível, amoroso, profissional, familiar, etc.
Já uma pessoa madura, é o oposto de tudo o que referi enquanto pessoa não madura.
Vai depender de pessoa para pessoa, de meio para meio. Não é preciso querer assentar para ser maduro, andar pelo mundo a ajudar pessoas. No fundo, basta ter cabecinha e ter algum sabor, como a fruta, saber estar.
Claro, quanto mais maduro, menos piada tem :(
Pessoalmente não me considero muito maduro, um misto entre os dois, existem momentos para tudo.

Disse-te que ia comentar :P

Me said...

Adorei o texto, também tenho 23 anos e estou a acabar o curso (o 2º, o 1º desisti a meio, talvez a primeira decisão muito bem pensada na minha vida até agora) e penso muito no que as pessoas querem dizer com "maturidade". Já questiono o futuro e tenho, digamos, receio de terminar este curso... mas não volto a desistir. Acho que é o fim de uma etapa e o inicio de uma nova para qualquer pessoa e há que encará-la com "tim tins".

É bem verdade, é tudo menos dizer "tenho 18" ou "tenho 21 e já sou gente"... dava jeito um livro de instruções, mas esse infelizmente não existe.

Diria que é talvez aprender com erros passados, assumir responsabilidade nas nossas acções e naquilo que somos e escolhemos ser e, tal como disseste, independentemente de decidirmos casar ou viver a vida de outra forma. Ou mesmo encontrar um lugar no mundo (demasiado filosófico,lol).

Ok,... também ando um bocado perdida por aqui...(aka Mundo).

Morcegos no Sótão said...

Curioso. Também desisti do meu 1º curso e, tal como tu, o 2º não é bem aquilo que queria, mas desistir já está fora de questão... Acabo o curso primeiro e depois logo vejo, mas já sei que vou andar a vaguear pelo mundo, pelo menos durante algum tempo.

E sim, sinto-me um bocado perdida também. Não se nota? ;) Mas há sempre uma perspectiva para a qual se pode olhar em que estar perdid@ não é assim tão mau. =)

Se algum dia quiseres ou precisares de falar, tens ali o mail do blog. Eu chego lá. :)

MJNuts