"This is the way, it's the way that we live... and love."Ora bem... Já há um bom par de anos que eu ouvia falar desta série, tenho uma amiga que é grande fã. Mas, apesar de ter visto um ou outro episódio para lhe fazer a vontade de perceber minimamente do que ela estava falar, nunca me cativou. Tenho um complexo qualquer e regra geral não gosto de ver filmes/séries só com homens ou só com mulheres. Ou só com gays ou mexicanos ou o que seja (excepção feita aos orientais). Não gosto de ver os mundinhos isolados, gosto de ver tudo misturado. Homens com mulheres e gays e pretos e tudo ao molho, diversidade é o que se quer!
Certa noite, apanhei nesse belo canal que é a Foxlife um episódio de
The L Word em que uma moça era largada no altar por outra moça. O que eu achei delirante! Aproveitando a onda de ter de estar em casa a estudar e já ter esgotado o meu stock de séries a ver, resolvi dar uma oportunidade à história de um grupo de amigas lésbicas de L.A. Como vim a descobrir, a modos que o ser lésbica é o menos que ali se passa.
Achei o episódio piloto um monumental tédio. Não conhecemos as personagens de lado nenhum e é um bocado pesado levar com mais de 1.30h de pessoas desconhecidas a levar uma vida que nos é estranha.
Mas é como tudo o que tem potencial de ser bom, grande. Primeiro estranha-se, depois entranha-se. Passados uns 3 ou 4 episódios, deixamos de ver mulheres enroladas com outras mulheres. Passamos a ver pessoas, tão simples quanto isso. Pessoas essas que sentem tudo igual, fazem os mesmos erros, têm os mesmos pensamentos, apenas optaram por uma outra vida, um estilo que a sociedade muitas vezes põe à margem.
"Sexuality is fluid. Whether you're gay or straight, you just go with the flow."Os temas são muitos, claro. Da homossexualidade à dificuldade em sair do armário. Da discriminação à aceitação. A fluidez da sexualidade, a importância de ter amigos, quem nos apoie. O amor e a vida e o crescimento e as dores e as traições. Os enredos do costume, já mais que vistos, nas mãos de um grupo de mulheres com as vidas entrelaçadas (como bem demonstra o Chart da Alice).
Não interessa a orientação sexual que se tem, qualquer rapariga se sente identificada nas cenas do grupo de amigas. As conversas, as piadas, as pequenas intimidades, as chatices e alegrias. Nisso,
The L Word vai directa ao coração feminino. Os corações masculinos, bem, calculo que vejam por outros motivos.
Há a Alice, a jornalista bissexual, responsável pelo famoso Chart que é bastante importante na série. E a Dana Fairbanks, uma tenista com dificuldades em sair do armário, que é uma fofura e é impossível não gostar dela. Temos a Shane, aquele ser meio andrógino por quem meio mundo se sente atraído. A Jenny, que basicamente é louca, mas tem a sua piada (mesmo que tenha dado um desgosto ao Tim, o homem mais adorável de sempre). A Kit, a única heterossexual do grupo, que é uma porreira. E a Marina, que é um mulherão daqueles de deixar todo e qualquer ser humano de queixo caído. Isto na 1ª temporada, porque as personagens vão entrando e saindo.
Mas a cereja no topo do bolo tem de ser, definitivamente, a Bette e a Tina. Começam a série como casal que já está junto há 7 anos, a querer engravidar. A Bette assume-se como
alpha femme, a Tina é mais low-profile. Eu ligo-me muito a casais quando vejo séries (a minha tendência para o
shipping é conhecida e gozada entre os meus amigos), mas a Bette com a Tina são um casal diferente. Como se saísse do ecrã, como se fosse... real. Os argumentistas deram-lhes um rol de problemas intermináveis, de abortos espontâneos a traições, passando por pais preconceituosos e gente a interferir e atrapalhar por todo o lado. Mas é fascinante como se nota
sempre que há um amor imenso a ligar aquelas duas mulheres. Como dói cada facadinha e como é tão intensamente agradecido cada bocadinho de paz, de reconciliação. Excelente trabalho de Jennifer Beals, suponho (a Bette), a quem cabe o papel mais difícil do casal, mas também da Laurel Holloman, porque a Tina... Pah, a Tina tem o tacto, doçura e subtileza que os poetas costumavam usar para descrever a sua Mulher-Anjo ou Mulher Ideal ou o que fosse. Não é questão de serem duas mulheres ou de serem bonitas ou de ficarem bem juntas... A questão é simplesmente que nunca, em série nenhuma, em livro algum, em qualquer filme, tinha visto um casal que encaixasse tão bem, como se fosse tão natural, como se fosse o destino. Um casal, não apenas que entretém, mas que transmite esperança na vida e no amor apesar de todos os conflitos. E isso é dar muito, é aquecer as pessoas por dentro.
Mas eu só vi 2 temporadas e sei que muita desgraça para elas (e para as outras!) vem a caminho. Lá terei que aguentar os desgostos, como se não me bastassem já os que estas 2 seasons deram, enfim...
A série, além de um enredo que prende pelo coração, tem das melhores bandas sonoras que por aí há em termos televisivos (a par de
The O.C.). Ainda tem um brilhante genérico inicial, usado só a partir da 2ª temporada, com uma canção especialmente criada para o efeito e todas as personagens em situações que dariam belas fotos artísticas.