Nomes. Algo que não é muito discutido aqui, tendo em conta que os morcegos deste blog não revelam a sua verdadeira identidade. Apesar de tudo, a maioria das pessoas que ainda lê este cantinho da blogosfera sabe que a minha assinatura nada tem a ver com a marca de roupa
Guess. Não querendo arruinar este pequeno mistério que aqui o blog
nos impõe, falar-vos-ei apenas de um dos meus apelidos, para partilhar com vocês um pedaço de felicidade.
Farinha.
Não é o meu apelido oficial, é aquele nome que vem antes do último, ou seja, aquele que nunca fica muito conhecido e nem sempre é associado à própria pessoa. Como é óbvio, não é com ele que assino o que quer que seja e raramente o uso e, como tal, poucas pessoas sabem que assim me chamo. Algumas sabem que tenho alguns complexos com ele (tenho?).
Na minha pré-primária e primária, os tempos que rondavam eram aqueles em que, claro, as crianças eram cruéis - nem se poderia esperar outra coisa; está na natureza delas. Naqueles tempos, tinha que haver sempre alguma coisa que fosse permanente a alguém e com a qual se pudesse gozar e apontar. Ora, assim que se descobriu que um dos meus nomes era Farinha, nunca mais fui eu capaz de me livrar dos constantes escárnios e comentários parvos das crianças das escolas.
Farinha, faz-me um bolo; Farinha podre; Farinha fica na cozinha; chamas-te Farinha, chamas-te Farinha... patético, não? Eu, como criança que era, não reagia muito bem aos ataques. Não era algo que me afectasse muito, mas fazia-me ter vergonha do meu apelido e querer sempre escondê-lo.
Os anos passaram, as crianças cresceram e, rapidamente, perceberam que havia coisas
BEM mais interessantes na minha pessoa com que se gozar que um estúpido nome. Eventualmente, o Farinha foi posto outra vez em sossego e quase nunca mencionado.
Março de 2008: altura em que me tornei monitor do Jardim Zoológico de Lisboa. Uma profissão que exige que trabalhe com quem? Com crianças! No entanto, não havia qualquer motivo para temer que o nome, com origem no meu lado materno, fosse retirado da prateleira outra vez, após tanto tempo. Até porque, sendo o meu último nome outro, seria de esperar que o meu cartão de identificação apresentasse tudo menos o Farinha. No entanto, o meu último nome estava destinado a servir milhares de outras pessoas em Portugal e, com tal vulgaridade, vi-me obrigado a usar Farinha como o apelido oficial, para evitar confusões e eventuais problemas de contabilidade, pois uma dessas milhares de outras pessoas tinha que trabalhar no mesmo local que eu. Consecutivamente, o meu cartão passou a identificar-me com o Farinha depois do meu primeiro nome.
As crianças são cruéis, não são? Todos os fins de semanas de trabalho no Zoo é como se tivesse voltado aos meus tempos de pré-primária e primária.
Farinha, vamos aqui;
Farinha, vamos ali;
oh, Farinha, faz-me lá um bolo;
Farinha!, Farinha!, Farinha!, Farinha!... e até alguns pais meio malucos não resistem em gritar um
moche ao Farinha! ou variantes. A última que ouvi foi
Farinha, Farinha, no cu da galinha incha - achava eu que era um ditado qualquer que existia, mas não passa de um fruto estranho da imaginação das criancinhas. O Farinha está de volta. Mas sabem? Eu não me importo. Aliás, eu gosto, eu adoro que me chamem Farinha. Poucas pessoas o sabem porque eu contesto sempre e finjo-me incomodado. Sendo eu um alvo fácil e preferido por muitos para se gozar, não é difícil fazê-los usarem este meu estimado apelido de cozinha. E quanto mais nos mostramos incomodados com certa coisa, mais as crianças gostam de a provocar (todos nós sabemos controlar as pequenas criaturas, não é?).
Por isso, sim, eu adoro o meu nome. O pequeno Guess não percebia ainda o valor dele, mas agora percebo e sinto-me bem por ele fazer parte da minha identidade. Ah, Zoo... consegues sempre fazer-me feliz. Sempre.
Em conclusão, não te preocupes Inê
z, um dia vais perceber a uniquidade do teu nome. Não fiques triste, B. Magalhães, o computador está aqui está a ir à falência e a ser retirado do mercado. Não ligues ao que os outros dizem, Rosa, não é vergonha nenhuma ter o nome de uma flor tão especial. Este parágrafo é, pois, para algumas das crianças que festejaram comigo os anos da Madalena este sábado no Jardim Zoológico. Uma festa em que, curiosamente, falámos imenso sobre os nomes.
GuessObrigado, avô. És tu quem me faz sentir um orgulho enorme em chamar-me Farinha.