Sunday, March 16, 2008

Music Explaining Me

Ah, o que vale é que a variedade é tanta que se podem fazer rúbricas musicais sobre N coisas... E como é só uma por mês, não podia correr melhor!

Percorrendo o blog da minha boa companhia cibernética Nia, dei de caras com um interessante desafio musical... A ideia é responder a um questionário usando apenas nomes de canções. E aqui vão as minhas respostas...

1.) Are you a male or female? Sex Changes
2.) Describe yourself: Colossal
3.) How do you feel about yourself: Forever Lost
4.) Describe where you currently live: Sounds of Silence
5.) If you could go anywhere, where would you go: Amsterdam
6.) Your best friend is: Samson
7.) Your favorite color is: Golden Brown (se bem que, tecnicamente, a minha cor preferida é o laranja...)
8.) You know that: How We Operate
9.) What's the weather like? Winter
10.) If your life was a television show, what would it be called? The Story
11.) What is life to you? Walking in the Air
12.) What is the best advice you have to give? Little Star
13.) If you could change your name, what would you change it to? Miss Halfway

E está o resultado do meu "questionário". Estes exercícios musicais são sempre interessantes de se fazerem... Força aí nos vossos!

MJNuts

Saturday, March 15, 2008

Quartos de Hotel

"É possível morrer. Laura pensa, de súbito, como ela - como qualquer pessoa - pode fazer uma escolha dessas. É um pensamento impulsivo, vertiginoso, um pouco imaterial - anuncia-se dentro da sua cabeça, leve mas distintamente, como uma voz crepitante de uma longínqua estação de rádio. Ela podia decidir morrer. É uma tremeluzente ideia abstracta, não particularmente mórbida. É em quartos de hotel que as pessoas fazem coisas dessas, não é? É possível - talvez até provável - que alguém tenha posto fim à vida aqui, neste quarto, nesta cama. Alguém disse «Basta, não quero mais»; alguém olhou pela última vez para estas paredes brancas, este liso tecto branco. Ao ir para um hotel, ela percebe-o, deixamos para trás as particularidades da nossa própria vida e entramos numa zona neutra, num limpo quarto branco, onde morrer não parece uma coisa assim tão estranha.
Podia, pensa, ser profundamente reconfortante, podia dar uma sensação de tanta liberdade: partir, simplesmente. Dizer a todos: eu não podia suportar, não fazem a mínima ideia; não queria tentar mais. Podia, pensa, haver uma terrível beleza nisso, como um campo de gelo ou um deserto ao despontar da manhã.
(...)
Passa a mão pelo ventre. Nunca o faria. Diz as palavras em voz alta, no quarto limpo e silencioso: «Nunca o faria.»
(...)
No entanto, está satisfeita por saber (pois, de algum modo, subitamente, sabe) que é possível parar de viver. Existe conforto em encarar toda a gama de opções, em considerar sem medo e sem astúcia todas as escolhas possíveis. Imagina Virginia Woolf, virginal, desiquilibrada, vencida pelas impossíveis exigências da vida e dar arte; imagina-a a entrar num rio com uma pedra na algibeira. Laura continua a passar a mão pelo ventre. Seria tão simples, pensa, como alugar um quarto num hotel. Sim, seria tão simples como isso."

Michael Cunningham em "As Horas"

Guess

Kiwi!

The dream was always running ahead of me. To catch up, to live for a moment in unison with it, that was the miracle.
Anaïs Nin

Dreams do come true, if we only wish hard enough.
You can have anything in life if you will sacrifice everything else for it.
J. M. Barrie



Realizador: Dony Permedi

IMDB: Kiwi!

Save the Kiwi!

Giovanna

Sunday, March 2, 2008

Sexo, Sexo Fálico, Sexo sem Falo e o Que Freud Fez de Todos

Ora portanto... De sexo todos falam e tenho vindo a notar um facto curioso sobre esta matéria em todas as pessoas com quem falo, independentemente das suas orientações sexuais. Preparem-se para um post com palavras que fazem os adolescentes darem risinhos idiotas. E se o meu discurso às vezes soar badalhoco, peço desculpa. Ao contrário do que possa parecer, estou a tentar abordar o assunto com seriedade. Ah, e aviso desde já os seres potencialmente menos dotados a nível de vocabulário que falo é pénis.

Para uma grande percentagem das pessoas, homens ou mulheres, o conceito de sexo sem a existência de um pénis é estranho, improvável ou simplesmente muitas vezes nem é tomado como sexo.

Há uma grande "guerra" entre as diferentes orientações sexuais, o que suponho que seja normal. É mais difícil compreender o que não se conhece. Então temos homens heterossexuais a não perceberem os homens gays, homens gays a não compreenderem as lésbicas e a desejarem os homens hetero, mulheres hetero a não perceberem como é que as lésbicas se orientam, mulheres lésbicas a tentarem perceber se fazem sexo ou não. E depois, claro, temos os bissexuais muito felizes que percebem o lado de toda a gente. Convém de facto ser bissexual e não fingir apenas por questões sociais, porque senão a compreensão fica à porta de qualquer das formas.

Ouvindo as conversas e pesquisando um pouco sobre o assunto, facilmente se descobre que todo o conceito de sexualidade está amplamente baseado no pénis. Há até autores que defendem que o orgasmo feminino não é uma necessidade biológica, pois é independente da reprodução, ao contrário do orgasmo masculino - quase sempre associado à ejaculação. Isso faz do orgasmo feminino um evento quase mítico e dificilmente explicável. É suposto nós, mulheres, não termos prazer? Por outro lado, as contracções das paredes uterinas durante o orgasmo talvez até dêem alguma luz aos espermatozóidezinhos à procura de vingar, mas desconheço se isso já foi provado ou se estou a divagar.

Não sei onde isto começou, mas a verdade é que até o conceito de virgindade está vinculado ao pénis: popularmente, uma mulher deixa de ser virgem quando há penetração vaginal por um pénis; um homem perde a virgindade quando penetra pela primeira vez. Segundo este raciocínio, um homem gay perde a virgindade também, pode é penetrar outros orifícios. Então e as lésbicas hardcore que morrem aos 80 e só tiveram relações com mulheres? Morrem virgens?

Segundo a Igreja Católica, a virgindade não passa tanto pela penetração. Ou antes, passa obviamente pela penetração, mas é um conceito exclusivo da heterossexualidade. A Igreja assume uma postura em que o sexo tem fins apenas reprodutivos (daí a posição contra métodos anti-concepcionais), logo a virgindade só se perde numa relação homem/mulher com esse propósito. Sexo por prazer não é tomado em consideração. Um homem gay, apesar de penetrar, é pecador E virgem aos olhos da Igreja. E as lésbicas voltam a morrer virgens.

Em termos de relação sexual propriamente dita, não é preciso ser muito inteligente para perceber o que fazem os casais, sejam hetero ou gays. Entre penetração, masturbação, sexo oral e trocas de posições, toda a gente se diverte. Parece-me óbvio também que eu, como mulher, nunca poderei saber o prazer que invade um homem no seu pénis (embora o possa imaginar), da mesma forma que um homem nunca poderá saber o que eu sinto na vagina. As mulheres não têm pénis, os homens não têm vagina, torna-se complicado perceber a diferença do prazer de um ou outro.

Então porque é que apesar disto, de todos fazerem as mesmas coisas (usando diferentes métodos, técnicas, órgãos ou orifícios), porque é que ainda assim há o preconceito de sexo sem pénis não ser sexo? Ou ser uma espécie de inferior sex? O propósito básico de uma relação sexual, pondo de lado a questão reprodutiva, não é atingir o orgasmo e dar prazer ao parceiro de modo a que ele atinja também o orgasmo?

A origem deste preconceito pode não ser freudiana, mas sem dúvida que Freud a expressou claramente. Para o pai da Psicanálise, a sexualidade é falo-cêntrica e, segundo ele, o Inconsciente deseja sempre o pénis. Assim sendo, os homens temem a castração (o que no Complexo de Édipo se vai reflectir no ressentimento para com a figura do pai) e as mulheres desejam ter pénis (o que no Complexo de Elektra se vai reflectir no desejo pelo pai). Portanto, mais uma teoria que deixa mal as lésbicas e, mais do que as lésbicas, torna as mulheres umas eternas desesperadas na busca do pénis que só poderão obter como seu se fizerem uma operação de mudança de sexo.


Acho que tudo isto ainda vem confirmar as estatísticas de que há mais homens gays do que mulheres lésbicas e de que há mais transsexuais (este ainda é o termo correcto e não ofensivo?) homens a quererem ser mulheres. Terminando tudo no desejo pelo pénis, certo? Ou seja, estatisticamente, o desejo por vaginas também há-de ser inferior em número.

Não sei que pense de tudo isto. Não acho que um casal heterossexual faça mais ou menos do que um casal homossexual. Acho que tem essa grande vantagem que é a de, a dado momento da relação sexual, o pénis estar em contacto directo com a vagina - mais concretamente encaixados - e ambos os parceiros podem retirar imenso prazer disso. Numa relação homossexual, não creio que as pessoas fiquem próximas de orgasmos por andarem os pénis ou as vaginas a baterem uns nos outros... Bem, mas há malucos para tudo. E há estratégias para dar a volta por cima de tudo, por isso tenho a certeza que, com ou sem pénis, quem não é virgem nem assexual está a divertir-se a ter sexo.

Só gostava era de perceber porque é que uma orientação sexual tem de perguntar a outra, como se fosse a coisa mais esquizofrénica de sempre: "mas afinal o que é que vocês fazem?". Hum... Parece que a minha mente é mais perversa que a do humano médio e consigo dar resposta a essa pergunta em várias vertentes...

MJNuts